Preso várias vezes no Recife, Oswald Barroso lembrou que, em uma delas, teve a casa cercada por metralhadoras. Também foi encapuzado, algemado e colocado sem roupas na caçamba de uma viatura policial. “A gente perde a identidade. É uma sensação de morte. Nem meus pais sabiam onde eu estava”, frisou o teatrólogo.
Oswald ficou detido em vários quartéis na capital pernambucana, mas a primeira penitenciária foi o Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), em Itaitinga, Região Metropolitana de Fortaleza. “A ideia que me veio à mente, por conta da aridez da paisagem, foi de um desterro. Eu estava em um lugar isolado, sozinho e distante do mundo todo”, pontuou.
O advogado Mário Albuquerque, que presidiu os trabalhos, também contou sua experiência pessoal na Casa de Detenção do Recife, um lugar muito sujo e infestado de ratos, segundo ele. “Cheguei na hora do almoço e vi aqueles negros suados e sujos carregando panelas gigantes. A imagem para mim foi de um navio negreiro de Castro Alves”, observou. Fabiani Cunha também lembrou os tempos de prisão e relatou os dias vividos no período.
Os três participantes são unânimes quanto à necessidade de divulgar tudo o que aconteceu durante a ditadura como forma de contribuir com a verdade dos fatos e inibir eventuais repetições de casos como esses.
Memória Oral por Verdade e Justiça, que conta com o apoio da Comissão da Anistia do Ministério da Justiça, visa coletar depoimentos de ex-presos políticos e parlamentares cassados. O resultado final, após os 11 encontros, será a produção de um documentário, considerando que, em 2014, o golpe militar completa 50 anos.
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