Você está aqui: Início Últimas Notícias Famílias vitimadas por torturas em 64 e 68 relatam sua história ao Memória Oral
O conselheiro da Comissão Federal de Anistia do Ministério da Justiça, Mário Albuquerque, destacou, na abertura do evento, que identifica diferenças entre os presos políticos de 64 e 68. Enquanto em 64 a maioria das prisões era de homens, em 68 houve um grande número de presos entre as mulheres. Essa diferença ele atribui a uma maior participação feminina nos postos de trabalho e nos bancos das universidades.
O primeiro a fazer seu relato na manhã de hoje foi José Machado Bezerra Serra Azul. Ele disse que enfrentou várias prisões e torturas efetivadas pela Ditadura Militar. Revelou que, como aluno de Física, participava do movimento estudantil da Universidade Federal do Ceará, integrando o Diretório Central dos Estudantes. Na primeira vez em que foi preso, em 1968, estava distribuindo panfletos em frente à fábrica Brasil Oiticica, no bairro Jacarecanga, em Fortaleza.
De lá, foi levado para o Dops e, em seguida, para a sede da Polícia Federal, onde foi interrogado por agentes federais. Depois foi transferido para o prédio do então quartel general da Polícia Militar, onde passou dois meses preso. Por conta da prisão, foi suspenso da universidade por um ano, conforme revelou Serra Azul.
O entrevistado voltou a ser preso no ano seguinte, desta vez acusado de roubar placas que seriam utilizadas em ações de guerrilha urbana, coisa que afirma nunca ter feito. Nessa segunda prisão, foi torturado por agentes da Operação Bandeirantes, que era chefiada por Sérgio Paranhos Fleury. “Falaram que ele estava presente nas sessões, mas, como eu estava encapuzado, não o identifiquei”, afirmou. Conforme revelou Serra Azul, as torturas duraram nove dias, com choques, pau de arara, afogamento e banho chinês. Chegou a passar nove dias sem comer, e só bebia água porque retirava escondido da caixa de descarga do sanitário. “Acho que queriam me matar de inanição”, disse.
Voltou ainda ser preso em 1972 e 1974, acusado de tentativa de reorganização do Partido Comunista Revolucionário – PCBR – quando voltou a ser torturado. De acordo com José Serra Azul, nenhum de seus algozes chegou a ser preso ou formalmente acusado pelas sessões de tortura praticadas.
O projeto Memória Oral é coordenado pelo conselheiro da Comissão Federal de Anistia, do Ministério da Justiça, Mário Albuquerque, com a participação do jornalista Paulo Verlaine.
JS/CG