Você está aqui: Início Últimas Notícias Especialistas apontam desafios para superar desigualdades na educação
Com mediação de Ruy Lima, o programa contou com a participação da doutora em Filosofia e História da Educação pela PUC de São Paulo Sofia Lerche e da socióloga e doutora em Psicologia da Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo Neca Setubal.
Para a líder do Grupo de Pesquisa Politica Educacional, Gestão e Aprendizagem (GPPEGA) do CNPq, Sofia Lerche, é preciso criar políticas públicas que ajudem a enfrentar os problemas da educação, agravados com o início da pandemia. Ela apontou ainda que são essas políticas que podem equacionar os problemas da população mais vulnerável, pontuando que a desigualdade no Brasil é estrutural e histórica, sendo expressa na oposição casa grande e senzala.
A socióloga Neca Setubal assinalou que essa desigualdade estrutural traz um grande retrocesso no processo de aprendizagem dos alunos e acrescentou que a pandemia trouxe ainda uma exacerbação dos problemas ligados à saúde mental. “Vemos todos os dias casos em diferentes escolas – públicas e privadas – onde esses aspectos têm aparecido de forma gritante”, comentou. Ela complementou ainda que a desigualdade precisa estar no centro do debate. “Quais são os grupos que não estão aprendendo?”, indagou.
INCLUSÃO DIGITAL E DESIGUALDADE
Neca Setubal afirmou que a adaptação para a aula on-line não se dá de um dia para o outro. Segundo ela, é preciso pensar em como incluir a tecnologia de forma a realmente dar acesso à população de nível socioeconômico mais baixo. “Os professores foram incríveis e se viraram, e eu acho que se perdeu o medo da tecnologia, mas isso também mostrou a realidade de uma população conectada de forma muito precária. É um celular para a família toda nessas favelas, portanto, impossível de acompanhar aula”, comentou.
Conforme informou Sofia Lerche, tramita no Congresso Nacional proposta de emenda à Constituição (PEC) 47/2021, de autoria da senadora Simone Tebet (MDB-MS), que acrescenta a inclusão digital entre os direitos e garantias fundamentais a brasileiros e estrangeiros residentes no País. Dessa forma, ela explicou, a inclusão digital passa a ser compreendida como um direito fundamental, ao lado dos direitos sociais já previstos na Constituição Federal, como saúde e educação. “Isso é um novo panorama dos desafios que nós temos para as escolas”, indicou.
EDUCAÇÃO COMO POLÍTICA DE ESTADO
Neca Setubal destacou que a discussão sobre educação pública é complexa e pontuou ser importante que grupos sindicais de docentes estejam representados nas decisões políticas, no entanto, para ela, o foco deve estar no aluno. Ela ressaltou ainda a necessidade de pensar educação como política de estado. “Precisamos de políticas de estado que passem governos e continuem, e, obviamente, isso vai se atualizando e adequando de acordo com as discussões de diferentes grupos”, defendeu.
Já para Sofia Lerche, é preciso perguntar quem tem sua voz priorizada no Congresso Nacional. “Por vezes, temos projetos aprovados a toque de caixa, a exemplo do ensino domiciliar, enquanto a legislação nacional brasileira tramita por muitos anos. É preciso que esses grupos da sociedade organizada estejam sempre muito atentos ao que está acontecendo dentro do Congresso Nacional”, salientou.
CIDADANIA GLOBAL
De acordo com Sofia Lerche, a educação para a cidadania global ainda não é um valor claramente perceptível pelas pessoas no entorno da escola e na própria escola. “Mas vimos lições de cidadania muito interessantes na escola, como práticas inclusivas e crianças com grande protagonismo. A gente não pode generalizar que a escola tem pouco a dizer sobre cidadania, até utilizamos as chamadas palavras geradoras de Paulo Freire para despertar um pouco mais o envolvimento”, comentou.
Conforme Neca Setubal, a inclusão da História e Cultura Afro-Brasileira no currículo oficial da rede de ensino amplia a discussão de cidadania global, tanto em escolas públicas quanto privadas. “A gente passa a fazer a conexão da África com o Brasil. Como foi isso? Quais são os impactos? E nos Estados Unidos, com o George Floyd? Não é de uma forma intencional e consciente, mas a gente também vai avançando nesses temas que estão atingindo diretamente a sociedade brasileira, no caso aqui, o racismo e a condição da população negra no País”, avaliou.
BD/CG