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Quarta, 11 Abril 2012 06:29

"O governo não estava dormindo"

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Eduardo Diogo diz que governo vinha pressionando ABC desde 2011 Eduardo Diogo diz que governo vinha pressionando ABC desde 2011 FOTO: MAURI MELO
  Eduardo Diogo, segundo o próprio governador Cid Gomes (PSB), é quem fala e age pelo governo do Estado na crise dos consignados. Secretário de Planejamento e Gestão, ele tem coordenado da sua sala, no 3º andar do edifício de onde despacha no Centro Administrativo do Cambeba, os passos governamentais nas cobranças à ABC. O titular da Seplag garante que o governo não decidiu de repente brigar com a empresa, adiantando que a relação é tensa e complicada faz algum tempo. Como prova, apresenta pelo menos três ofícios encaminhados entre os meses de outubro e novembro do ano passado. “Não estávamos dormindo”, avisa, em reação à ideia de que o governo demorou a agir. Eduardo Diogo conversou com O POVO no final da tarde da última terça-feira, em seu gabinete. Confira os trechos principais: O POVO – Por que o governo decidiu agir agora nessa questão dos consignados?Eduardo Diogo - A gente já vinha fazendo a cobrança para que eles abrissem que a Caixa Econômica fizesse uma quantidade de apoio de operações de crédito, dar novas opções aos servidores. Este foi um processo meio desgastante porque houve uma resistência muito grande deles em abrir para a CEF, para ter uma ideia eles abriram em apenas oito agências da Caixa. E a gente cobrando, cobrando, cobrando. Falo isso porque fica claro que não é uma coisa que começou agora, essa semana. Não estávamos dormindo e, de repente, decidimos agir. Desde o ano passado que vimos firmemente, diligentemente, buscando melhorar a concessão do crédito para o servidor público. OP - A insatisfação, então, vem de algum tempo?Eduardo - Sim. Ela não apareceu de repente. OP - De que forma a ABC tem se manifestado diante de todas as cobranças que o senhor diz que têm sido feitas? Por exemplo, não há uma conversa mais direta entre as partes?Eduardo - Marquei uma reunião na terça-feira (3/4) com o doutor Pedro Felipe e com o doutor Bruno Borges, falei diretamente com o doutor Pedro Felipe. A reunião aconteceria às 11 horas da quarta-feira (4/4), no meu gabinete da Seplag, mas, infelizmente, eles não vieram. OP - A comunicação que se dá, portanto, é através das notas oficiais?Eduardo - Marquei na terça-feira, tive, antes, inúmeras reuniões aqui com o Bruno e a equipe dele, cheguei a coordenar uma reunião aqui entre a equipe dele e o pessoal da Caixa, atrás de uma solução para o assunto, e nada. Então, fruto de tudo isso, resolvi, naquela terça-feira, me comunicar com o doutor Pedro Felipe diretamente, por telefone, fiz o agendamento, esperei na quarta e, mais ou menos quando era meio dia e 45 liguei para ele novamente, tentei entender e fui informado de que como a Seplag havia publicado uma nota no jornal, dando 24 horas etc, a empresa também iria se manifestar através dos jornais. Disse que estava à disposição dele, manifestei o interesse de que conversássemos, dar os encaminhamentos devidos ao assunto, mas ele disse que não, que se posicionaria pelas notas. OP - O que a ABC alegava nas respostas?Eduardo - Não fazia. Chegaram ofícios que sequer identificavam as pessoas que assinavam pela empresa?! OP - O relacionamento vem ruim de algum tempo, é certo, mas o governo somente agora começou a cobrar em assuntos como a rede de atendimento...Eduardo - É, mas só para ficar claro, não tem nada de novo. O governo vem, como está claro nos oficíos, desde outubro, pelo menos, buscando aperfeiçoamentos, melhoria, na concessão do crédito consignado para o servidor público do Estado do Ceará. Não é de hoje que o governo tem atuado. Era cansativo o tanto de vezes que a gente se reuniu, sem resultado. OP - No entanto, há uma mudança de tom nesse momento?Eduardo - Fruto de quê? Fruto dessas sucessivas tentativas de uma melhoria na concessão do crédito. Este é o foco da luta para incluir a Caixa nas operações, não era para atender interesses da Caixa. Entendeu? É na linha de dar uma outra opção, ter mais agências etc. OP - O governador, em meio à crise, deu um recado que pareceu direcionado ao ambiente interno, indicando que quem fala pelo governo no caso dos consignados é o senhor e que não admite interferências. Por que ele se sentiu obrigado a isso? O senhor sofreu algum tipo de tentativa de interferência?Eduardo - Primeiro, deixe-se claro, só quem fala pelo governador é o próprio governador. OP - Mas, há algum fato concreto? Houve algo, mais recentemente ou no passado?Eduardo - Não, não houve nada concreto. Entendo que o governador, no momento em que coloca esse tipo de coisa, quer deixar claro que não admitirá. Na hora em que ele delegou à Secretaria de Planejamento e Gestão dar um encaminhamento ao assunto também deixou claro que não admitirá que situações que caracterizem uma interferência possam acontecer. Para mim, ele está se antecipando, evitando que eventualmente algo do tipo viesse a acontecer. OP - Na denúncia do deputado Heitor Férrer, inclusive, há a informação de que uma das empresas estaria levando 19% de cada operação.Eduardo - Pois é, a gente ouve falar desses números que, na verdade, desconheço. Nossa relação é somente com os dois bancos credenciados e com a empresa ABC.. OP - A ABC não é obrigada a informar o Governo quanto aos juros que pratica?Eduardo - A Seplag tem o direito de intervir na hora em que considerar que os juros estejam sendo exorbitantes. Não é o caso, até onde a gente prospecte, que esteja acontecendo, não identificamos nada nesse sentido. O que não significa que a gente não possa buscar melhorias e o que estamos fazendo. OP - Há algum tipo de histórico que o governo possa apresentar para demonstrar ao servidor que a mudança lhe foi benéfica, saindo do descontrole anterior para o modelo de intermediação entregue à ABC?Eduardo - O crédito consignado é uma coisa nova, criada já no governo Lula. Então, vem sendo aperfeiçoado, mas, na época em que foi criado, não tinha limites e a coisa ficou meio confusa mesmo. Para aquele momento, o encaminhamento que foi dado era o mais pertinente e o importante é que foi feito o ajuste posterior. A gente sabe que o Brasil viveu, hoje está um pouco menos, o grande boom do descobrimento do crédito, da chamada explosão do crédito. Houve isso! Quem é que comprava no País, antes, carro com parcelas fixas de 72 meses, isso não existia. Houve o deslumbramento que gerou distorções, responsabilidade nossa mesmo, em 99% dos casos. Foi o que aconteceu aqui e, naquele momento, a solução apresentada pareceu eficiente, eficaz, não trouxe ônus para administração pública. OP - No caso, a licitação que levou à escolha da ABC? Eduardo - A licitação, exato. OP - Continua sendo, hoje?Eduardo - Agora, nesse momento, digo que só consigo dar uma resposta correta se conhecer como o processo funciona? OP - O deputado Heitor Férrer, que é de oposição, queixa-se do fato de nunca ter recebido resposta aos seus encaminhamentos sobre o assunto..Eduardo - Essa não é uma pauta nova pra gente, não é um assunto que o governo tenha sido negligente em relação a ele. O problema é que, na administração pública, não se pode dar uma guinada mais forte de uma hora para outra. OP - No entender do senhor as cobranças feitas à ABC têm a ver com o que o deputado reclama?Eduardo - Acho que sim. O deputado não tem obrigação de saber que tudo isso estava acontecendo, da mesma forma que a imprensa não conhecia etc, porque eram procedimentos administrativos internos. Apesar de ter sido uma pauta pública, por exemplo, quando o jornal O POVO reverberou bem a reunião que tivemos aqui com a Caixa Econômica Federal. O deputado não tem como ter acesso ao dia-a-dia do governo, que tem 28 secretarias,e, entendo, a partir da falta de conhecimento sobre o assunto é que ele pode apresentar esse tipo de afirmação. O fato é: para o Executivo, não há atitude abrupta. OP - E o governo não está pautado pela imprensa, local ou nacional?Eduardo - Não, não. O que há é um relacionamento que vem trilhando ao longo do tempo que poderia ter sido bem melhor, para que a gente possa melhorar a relação que atinge 62 mil pessoas diretamente, servidores públicos, mas que também atinge seus familiares, dependentes etc. Nunca houve por parte da ABC, como está claro, disponibilidade para um relacionamento sincero, simples, com foco no porvir. Não houve.
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