Você está aqui: Início Últimas Notícias Mulheres redescobrem a força interior e o amor próprio na luta contra o câncer de mama
Até os 47 anos, a secretária executiva e produtora da TV Assembleia Helenir Medeiros não havia enfrentado nenhum problema sério de saúde. Quando ela conferiu o resultado do exame de laboratório na internet, indicando “câncer em estágio inicial”, não conseguiu acreditar. “Eu fiquei admirada, porque eu era muito saudável”, declara.
Helenir enfrentou não apenas um, mas dois cânceres ‒ o primeiro no endométrio e o segundo na mama –, ambos descobertos no segundo semestre de 2011. Passado o choque inicial, ela conta ter encarado tudo com muita tranquilidade. “Eu fui muito tranquila, muito serena. Durante todo o período de cirurgia e de tratamento, eu tinha a certeza de que eu iria me curar. Eu sempre fui muito religiosa, e tudo isso me fortaleceu”, relata.
Helenir narra ainda que não parou de trabalhar e ficou em casa apenas o tempo necessário para a recuperação das cirurgias. “O apoio da família foi essencial, e também dos amigos e colegas de trabalho”, destaca.
Para ela, o importante, após a descoberta da doença, é não desanimar. “O emocional conta muito quando você está doente. Você tem que estar bem e procurar ter a certeza de que vai ser curada”, orienta. De acordo com a produtora, é imprescindível fazer os exames regularmente.
SUPERAÇÃO
Diagnosticada com câncer de mama em janeiro de 2011, a representante comercial Ana Paula Sá, 45 anos, descobriu o nódulo em meio aos exames de rotina. Segundo ela, no ano anterior à descoberta da doença, não havia sido encontrado nódulo algum. “A sorte que eu tive é que foi descoberto no início”, diz.
Ana Paula conta que, no mesmo dia da retirada do tumor, fez a cirurgia de reconstrução e, por isso, não teve o choque de se ver sem mama. Ela afirma, porém, que o pior momento foi no retorno ao médico, quando, imaginando estar curada, foi informada de que seria preciso iniciar o tratamento com quimioterapia. “Aquilo me desabou. Na realidade, quando se fala em câncer de mama na mulher, a primeira coisa que se pensa é se ver sem a mama e careca, o que mexe muito com a feminilidade da gente”, comenta.
Apesar do receio com a perda dos cabelos, Ana Paula declara que, após o tratamento, esse medo tornou-se irrelevante. “Vou ser bem sincera: a queda de cabelo foi o mínimo. Quando você se vê curada, você estar careca não é nada”, confessa. Ela também comenta que não parou de trabalhar enquanto realizava o tratamento: “Se eu ficasse em casa, eu acho que ia me sentir mais inútil”, reflete.
Além do apoio dos amigos e familiares, Ana Paula ressalta que a certeza de que se curaria ajudou muito na recuperação. “O psicológico da pessoa influencia muito”, afirma. Às mulheres, ela diz para que não se preocupem com a perda dos cabelos e confiem nos avanços da medicina. “É levantar a cabeça, procurar o apoio e seguir em frente”, aconselha.
TRANQUILIDADE
A aposentada Nazaré Antero, 70 anos, conta que encarou a doença de forma muito tranquila. "Como minha mãe já tinha tido dois cânceres nas duas mamas, eu me considerava uma pessoa na área de risco. Logo, quando apareceu, eu, graças a Deus, levei de uma forma muito realista a ideia de que precisava fazer a cirurgia", relata.
Segundo ela, a doença assustou marido e filhos, mas a aproximou ainda mais das amigas. "O câncer, para mim ‒ eu não tenho problema nenhum de falar a palavra câncer ‒, foi uma reafirmação do meu elo de amizade com as amigas. Elas disputavam quem iria comigo para fazer radio(terapia), perguntavam o que eu precisava. Minha casa ficou muito cheia de amigas, as pessoas vieram me dar muito apoio", declara.
Ativista dos direitos das mulheres, Nazaré também buscou fazer valer seus direitos enquanto paciente com câncer. "Eu busquei o que poderia tirar de positivo do meu câncer. Fui à Caixa Econômica, tirei Fundo de Garantia e tirei PIS (Programa Integração Social). Tive uma luta pessoal com deputados para a gente ter isenção de IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores), porque, na época, aqui no estado do Ceará, não havia isenção de IPVA, e hoje já temos", explica.
Onze anos após o diagnóstico e a cirurgia de retirada da mama, ela se mostra confiante com os avanços da medicina e aconselha as mulheres a enfrentar a doença de cabeça erguida. "Força, muita força, e coragem, que isso não é fim de mundo. Hoje a medicina está aí com muitas ferramentas que podem amenizar a dor da gente", afirma.
ESPERANÇA
Já para a aposentada Marinete Brito, 60 anos, o diagnóstico do câncer foi um choque. Após a descoberta do nódulo e a realização da biópsia, Marinete voltou à escola onde trabalhava como professora e deixou para buscar os resultados dos exames seis meses depois, no período de férias escolares. "Eu estava confiante, não pensei que fosse CA. Não caiu a ficha", relata.
Com o diagnóstico em mãos, a médica recomendou a retirada do quadrante da mama, ideia à qual Marinete se opôs. "Por que não tira a mama toda? Eu tenho medo da volta... tem uma palavrinha, reincidência... Eu tenho medo", questionou à médica.
Segundo Marinete, o pós-operatório foi tranquilo. "É uma mutilação feminina, é um órgão da gente, mas eu aceitei muito bem. Como optei tirar tudo, não precisou esvaziar a axila, não precisou nem quimioterapia e nem radioterapia. Foi uma benção", comemora.
Ela ressalta ainda a importância do acompanhamento psicológico, já que, na época da descoberta da doença, também estava passando pelo processo de separação do ex-marido. "Eu resisti um pouco. 'Não precisa, eu rezo muito'. Depois eu fui vendo que precisa. Foram duas grandes perdas. Então, eu aceitei", conta.
Para as mulheres, ela dá o recado: "Em primeiro lugar, se cuidar. Não pensar em marido, em trabalho, em nada. Porque doença é uma coisa que você não pode guardar. Eu sei que o mundo cai, mas, se aparecer, tenha a esperança de que vai ficar boa. Tem o momento do luto, 'perdi', mas não é perder, é você se reinventar". E acrescenta: "A palavra final é fé, esperança e amor. Fé em Deus, esperança em ficar boa e amor por si própria".
SÉRIE
Essa matéria encerra a série de reportagens da Agência de Notícias da Assembleia Legislativa sobre o câncer de mama e ações da campanha Outubro Rosa. Na primeira matéria, foram apresentados eventos e mobilizações que vão ocorrer na Assembleia Legislativa e em Fortaleza, conscientizando sobre a importância de ações preventivas no combate à doença.
A segunda reportagem tratou dos números de casos de câncer de mama, além dos desafios para a prevenção e a necessidade da detecção precoce para a eficácia do tratamento.
A terceira trouxe o trabalho de associações e instituições que dão apoio às mulheres diagnosticadas com câncer de mama. E a quarta reportagem apresentou a visão de deputadas sobre o tema.
A série contou com as participações das jornalistas Bárbara Danthéias e Samaísa dos Anjos, na reportagem; de Clara Guimarães e Geimison Maia, na produção e edição; dos fotógrafos Júnior Pio e Bia Medeiros; do designer gráfico Márcio Medeiros, na arte; da publicitária Marcela Loiola, na edição de imagens, e da revisora Carmem Ciene.
BD/CG