Mais de 4.500 municípios brasileiros foram identificados com a presença do Aedes aegypti, conforme o coordenador nacional do programa de prevenção da Malária e das doenças vinculadas ao Aedes aegypti, Divino Valério
( Foto: Agência Diário )
O combate ao mosquito Aedes aegypti tem se tornado um dos grandes desafios da gestão pública no Ceará e em todo país. Além da dengue e o zika vírus, o vetor é o principal transmissor do vírus chikungunya, infecção que possuí os sintomas mais intensos dentre as três. Só no Ceará, neste ano, 8.667 casos de chikungunya foram notificados, destes, 21,5% confirmados, além de uma morte, registrada até a 12º semana de 2017, de acordo com o boletim epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde. Já em 2016, foram 81 óbitos suspeitos por chikungunya, sendo 26 confirmados.
Para discutir este cenário, a Frente Parlamentar de Combate ao Aedes Aegypti da Assembleia Legislativa, em parceria com instituições e a sociedade civil, realizou ontem um seminário, no auditório Deputado João Frederico Ferreira Gomes, que contou com a presença de especialistas da área da saúde de vários estados brasileiros.
O representante do Ministério da Saúde no seminário, Divino Valério, coordenador nacional do programa de prevenção da Malária e das doenças vinculadas ao Aedes aegypti, destacou em sua palestra a importância da mobilização de todos as esferas e população no combate a este problema. "Vivemos em um país continental, onde mais de 4.500 municípios foram identificados com a presença do Aedes aegypti. É algo que envolve além do clima da região, questões de saneamento e arbovirose. É um conjunto de fatores que faz disso, um dos maiores problemas de saúde do Brasil", afirma Divino Valério.
A médica infectologista Melissa Falcão, da Bahia, também fez uma alerta em sua palestra sobre o risco da doença, que pode inclusive, levar a morte e deixar sequelas. Ela desenvolve estudos em Feira de Santana, uma das primeiras cidades do país a registrar casos de chikungunya. "Esse vírus leva o paciente a sentir dores insuportáveis e prolongadas, principalmente os casos crônicos. Além das sensações físicas, a doença pode ter um impacto na vida social da pessoal e levar até a uma depressão. Em casos mais extremos também pode levar ao óbito. No Brasil, os casos já estão acima da média estipulada pela OMS", defende a médica infectologista.
Pesquisas
Além das ações de prevenção à proliferação dos focos de Aedes Aegypti, os órgãos de saúde federais, estaduais e municipais investem e alimentam uma grande expectativa para o desenvolvimento de uma vacina contra o vírus da chikungunya.
"O mais palpável que temos é a experimentação da vacina contra dengue, que já está sendo realizada em algumas cidades. Zika e chikungunya, ainda estão em fase de encaminhamento laboratorial e só deverá ter retorno em médio prazo. Todos esses vírus têm peculiaridades, apesar de algumas semelhanças. Porém, ainda sabemos muito pouco", analisa o especialista membro da Fundação Oswaldo Cruz, Ademir Martins.
Saiba mais
Casos
No Ceará, em 2014, surgiram os primeiros casos importados de chikungunya. No final de 2015, iniciou-se a transmissão autóctone do Estado após a confirmação de sete casos, nos municípios de São Gonçalo do Amarante e Fortaleza.
No ano seguinte, houve a transmissão sustentada, caracterizada pelo cenário epidêmico, com 49.496 casos suspeitos de chikunguya, sendo 31.504 (63,6%) casos confirmados em 139 (75%) municípios.
Sobre as taxas de incidência dos casos suspeitos de chikungunya, destacam-se os municípios de Baturité, Aracoiaba, Independência, Ocara, Groairas, Canindé, Pentecoste, Caucaia e Cascavel com incidência acima de 300 casos confirmados por 100 mil habitantes
Entrevista com Leonardo Vilela*
Quais iniciativas deram certo em Goiás?
Adotamos um ciclo de 12 visitas anuais nos domicílios para combater os focos do mosquito. A indicação nacional é de uma média de 6 visitas por ano. Dobramos esse número justamente para intensificar a fiscalização nos principais focos.
Qual o atual cenário de combate ao Aedes no seu Estado?
De 2016 a 2017 conseguimos diminuir em pelo menos 80% os casos de dengue, zika e chikungunya. Isso se deve a conscientização da população, fiscalização e campanhas educativas. Além disso, a boa cobertura vacinal contra a febre amarela pode ter sido um fator cruzado para esses números positivos. Em 2017, registramos apenas 7 casos de chikungunya de pessoas que desenvolveram a doença dentro do Estado.
Quais os principais locais de foco?
Identificamos que cerca de 75% dos focos são em residências. Indicamos que a população sempre olhe os recipientes de água, reservatório, nos quintais, jardim e telhados. Contamos com o envolvimento de toda cidade para manter os números abaixo da média nacional.
*Secretário de Saúde de Goiás