Você está aqui: Início Últimas Notícias Especialistas debatem na AL projeto de usina dessalinizadora
O deputado Renato Roseno (Psol) lembrou que o Ceará é referência na gestão de recursos hídricos e que sua condição geográfica, dentro do semiárido, direcionou-o ao desenvolvimento de tecnologias sociais, de produção e de gestão dos recursos hídricos.
“O Ceará é notabilizado também por esse movimento civil que compreende que a seca e o semiárido não precisam ser combatidos, mas que se pode conviver com essas condições, a partir de uma boa gestão dos recursos hídricos e da elaboração de alternativas de gestão e uso da água”, disse. Para Roseno, a mudança de mentalidade de quem demanda é de fundamental importância para chegarmos a esse reconhecimento.
O professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador do estudo de impacto ambiental da usina dessalinizadora de água marinha, Fábio Perdigão, esclareceu que o empreendimento, que ainda está em fase inicial de coleta de dados de elaboração, tem como objetivo o aproveitamento da água do mar para uso humano, provocando “zero impacto em seu entorno, seja ambiental, social ou econômico”. “O projeto está sendo elaborado de forma que a pessoa que viva na Praia do Futuro ou se banhe naquele mar nem suspeite que há uma usina naqueles arredores”, assinalou.
Segundo acrescentou, o projeto ainda está em fase inicial, e a legislação será seguida. Uma das primeiras diretrizes é observar o que diz o Plano Diretor de Fortaleza sobre o local escolhido. A partir disso, serão considerados todos os possíveis impactos, desde a poluição sonora, que pode afetar as comunidades dos arredores, ao ambiente marinho, quando da captação de água e o processo de liberação da salmoura.
“Podem ter certeza de que o estudo ambiental que estamos realizando é independente e temos autonomia para dizer o que está certo, errado, e até cancelar o projeto. Tudo com respaldo da UFC”, observou.
O presidente da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Neuri Freitas, explicou que a empresa colabora com um pensamento estratégico voltado para a melhor gestão dos recursos hídricos no Estado, juntamente com a Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) e com a Companhia de Gestão de Recursos Hídricos (Cogerh), que vai além da usina de dessalinização. Segundo ele, “se tivéssemos já uma planta de dessalinização, a situação hídrica da nossa população seria outra. Entretanto, a situação ambiental atual nos obriga a pensar não apenas nessa medida, mas em outras também”, pontuou.
Neuri explicou que, entre essas medidas está o projeto Malha D’água, cuja proposta é adensar a rede de adutoras, considerando todos os centros urbanos do Estado, com captação realizada diretamente nos mananciais com maior garantia hídrica e implantação das estações de tratamento junto a esses reservatórios para posterior adução aos núcleos urbanos integrados ao sistema.
Outras medidas envolvem a captação de água do rio São Francisco; o reúso da água na indústria e na agricultura e redução das perdas de água na distribuição, o que envolveria toda a modernização da infraestrutura hídrica.
“Nós não vamos propor soluções que causem impactos negativos a esse grupo ou àquele segmento, mas tais arranjos e medidas são necessários, porque a escassez hídrica do nosso Estado já é grande, chegando ao ponto de termos de restringir o consumo da população, aplicando tarifas de contingência". Ele reforçou que “é salutar para quem opera e para quem consome que busquemos alternativas de utilização e distribuição dos nossos recursos hídricos”.
IMPACTOS
O vereador Gabriel Aguiar (Psol) comentou a importância de trazer a participação popular para o debate, considerando os possíveis impactos, que não se limitam ao local onde a usina será instalada e nem são apenas imediatos. “Trata-se de um debate que deve ser feito com muito carinho. Precisamos nos entender, visto que a água é um bem difuso, pertence a todos e, ao mesmo tempo, a ninguém especificamente.”
Dentro dos impactos ambientais, Gabriel Aguiar considerou a repercussão da usina dessalinizadora na vida marinha do entorno. Segundo ele, a Praia do Futuro é o principal ponto de desova de pelo menos quatro espécies de tartarugas, todas sob ameaça de extinção.
Outra questão considerada são os impactos urbanos. Ele lembra que a região escolhida preliminarmente abriga escolas, postos de saúde, comunidades, o que poderá repercutir, ainda que indiretamente, na vida das pessoas que ali circulam. O vereador também questionou a escolha de uma dessalinizadora, quando, segundo ele, “há outras alternativas mais baratas”.
A covereadora Louise Santana (Psol) também cobrou, quando da definição do estudo de impacto ambiental para o empreendimento, políticas públicas voltadas para dirimir os impactos sociais provocados pela usina, assim como definição de orçamento.
A discussão contou ainda com a participação do coordenador do projeto da Planta de Dessalinização, Silvânio Porto, da Cagece; do vereador Sargento Reginauro (Pros); do presidente da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/CE), João Alfredo; do cientista chefe da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Marcelo Soares; de Fátima Feitosa, da Associação de Empresários da Praia do Futuro; de Josué Freitas, do Observatório das Águas; de Liana Queiroz, do Instituto Verde Luz, e de Fabrini Andrade, do Instituto Povos do Mar.
PE/AT