Você está aqui: Início Últimas Notícias Os perigos das fake news são debatidos no programa Grandes Debates
A jornalista, escritora, ex-deputada e fundadora do Instituto E Se Fosse Você, Manuela D’Ávila, pontuou que a mentira sempre ocorreu, mas nunca se teve a tecnologia para que “a mentira certa chegasse à pessoa certa”, como se tem agora. Segundo ela, as mentiras são sempre distribuídas para as pessoas que, a partir daquela narrativa de ódio, estão abertas para acreditar naquela mentira específica.
“A gente precisa entender esse esquema de produção e distribuição de conteúdo a partir da má-fé, ou seja, de pessoas que têm interesses – sobretudo políticos, no meu caso – e que criam conteúdos a partir de ódios e preconceitos reais da sociedade, e a forma como isso atinge pessoas comuns. Existe uma diferença entre a pessoa que produz esse conteúdo com má-fé e a pessoa que acredita e legitimamente quer salvar a humanidade daquele mal e que, nas últimas consequências, passa a agredir ou ameaçar em função dessa crença”, explicou.
Manuela também comentou que há um interesse legítimo por parte dos parlamentares em criar uma tipificação penal para a distribuição de notícia falsa, no entanto já existe uma lei que é quase suficiente. “A maior prova de que a lei já nos serve é o inquérito do Supremo Tribunal Federal, ou seja, quando houve disposição e decisão política no sentido de decisão para agir, o STF identificou quem criava, quem distribuía e quem compartilhava e os puniu”, afirmou, referindo aos inquéritos do STF que apuram a disseminação de fake news pelo País.
A ex-deputada também frisou a importância de construir uma cidadania digital, criando conteúdos didáticos para ensinar as pessoas como checar notícias e diferenciar fato de opinião. Para Manuela, esses temas poderiam ser trabalhados nas escolas, não somente formando os mais jovens, mas também fazendo com que os mais jovens levem esse conteúdo para casa e o repassem aos mais velhos.
AGÊNCIAS DE CHECAGEM
De acordo com a jornalista e diretora da Agência Lupa, de checagem de fatos, Natália Leal, a agência surgiu em 2015 e fundamenta-se no gênero jornalístico fact-checking – checagem de fatos. Ela explicou que o termo fake news ganhou mais notoriedade a partir de 2016, quando “pós-verdade” foi escolhida como palavra do ano pelo dicionário Oxford.
“A Lupa surge como uma agência de notícias especializada nesse tipo de checagem do discurso público e acaba, pelo contexto e pela maneira como vivemos o ambiente digital, preocupando-se com essa desinformação que está cada vez mais presente no nosso dia a dia e que, em um cenário polarizado, acaba virando uma bomba o tempo inteiro, atacando pessoas e ideias”, ressaltou.
Conforme Natália Leal, a Lupa utiliza uma metodologia validada internacionalmente pela rede mundial de checadores, com monitoramento constante do que está circulando nas redes sociais, identificando a viralização do conteúdo e até que ponto o conteúdo é passível de checagem – opinião e eventos futuros, por exemplo, não são checados pela agência.
A jornalista contou que, até o fim do ano passado, a agência não usava o termo “mentir”, pois, segundo ela, o ato de mentir está ligado à intencionalidade. “O que a gente observou é que, para algumas pessoas, propagar informação falsa é um comportamento recorrente. E a partir da recorrência, se essa pessoa não se corrige e volta a propagar essa informação falsa, a gente pode classificar como mentira e intenção de distorcer a narrativa”, assinalou. Em relação aos veículos de imprensa, ela pontuou que todo mundo que trabalha com informação corre o risco de desinformar em alguma medida e acentuou que empresas sérias de jornalismo têm uma política de correção aberta, transparente e aplicada.
COMBATE A FAKE NEWS NO CEARÁ
O deputado estadual Júlio Cesar Filho (Cidadania) comentou sobre o recente caso de fake news relacionadas ao aumento do preço dos combustíveis, responsabilidade que foi atribuída pelo presidente Jair Bolsonaro aos governadores. “O presidente Bolsonaro tem o objetivo claro de, através da desinformação, tentar desgastar seus adversários políticos ou aqueles que pensam diferente dele”, afirmou.
O parlamentar também destacou algumas iniciativas do estado do Ceará para conter a disseminação de notícias falsas, como a agência oficial para checagem de dados nas redes sociais referentes à administração pública. “Nós temos amplamente divulgado o site, para o cidadão que tiver acesso à notícia, antes de repassar, checar antes, para que ele – até de forma não proposital – não seja o disseminador de fake news”, informou.
Júlio César Filho também mencionou que, no fim de 2020, foi protocolada na Assembleia Legislativa a CPI das Fake News, proposta pelo deputado Acrísio Sena (PT). Segundo o deputado, a ideia da CPI surgiu a partir da grande quantidade de informações falsas circulando no Estado, seja difamando algum político, seja espalhando desinformação acerca da pandemia da Covid-19. Júlio César ressaltou ainda a Lei nº 17.207, que prevê multa para quem propagar fake news relacionadas à pandemia. A proposta foi apresentada pela deputada Augusta Brito (PCdoB) em abril do ano passado.
Mediado pelo jornalista Ruy Lima e coordenado pelo Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da AL, o programa "Grandes Debates – Parlamento Protagonista" é exibido mensalmente pela TV Assembleia (canal 31.1), FM Assembleia (96,7MHz) e mídias sociais do Poder Legislativo e conta sempre com a participação de especialistas em diversos temas da atualidade.
BD/