Você está aqui: Início Últimas Notícias Privatizações do Serpro e Dataprev são criticadas em audiência pública na AL
“São duas empresas lucrativas, que guardam dados fundamentais do cidadão brasileiro e que o governo Bolsonaro quer entregar às multinacionais”, afirmou. O parlamentar também destacou a importância de ampliar a discussão, frisando que a existência de ações unificadas não retira a necessidade de ações específicas para trabalhadores do Serpro e da Dataprev.
O deputado Acrisio Sena (PT) lamentou a ausência dos presidentes do Serpro e da Dataprev no debate e ressaltou a importância estratégica das duas empresas, informando que cerca de 40% dos mais de 1.700 serviços públicos ofertados são digitais. Já o deputado Salmito (PDT) criticou o governo por tentar usar o pagamento da dívida pública como justificativa para as privatizações. “Se vender essas empresas públicas, não paga essa dívida. Se pagasse, ainda assim não seria o caminho”, avaliou.
Representando a Organização Local de Trabalho (OLT) do Serpro/CE, o analista Daniel Lima Fernandes pontuou que “os dados são o petróleo do século XXI”. Segundo ele, a privatização traz sérios riscos à soberania nacional, pois, uma vez que o Serpro esteja privatizado, ele poderá cair no domínio de empresas estatais estrangeiras. “O que vocês acham de dados brasileiros estarem sob gestão de um país estrangeiro?”, questionou.
Já o representante da OLT da Dataprev/CE, Carlos Marcos Augusto, destacou que a justificativa para a privatização de que o Estado é gigante e ineficiente não procede, pois ambas as empresas são superavitárias e geram lucros para o país. Ele também alertou para o perigo de ceder dados tão amplos da população brasileira – que vão desde indicadores demográficos até informações sobre salários e imposto de renda de cada cidadão – para a iniciativa privada.
“O valor dessas empresas não está nos equipamentos, nos edifícios, no patrimônio e nem mesmo no qualificado corpo técnico funcional, mas nas informações e nos dados – que são críticos e cobiçados – que essas empresas processam”, enfatizou o ex-presidente da Dataprev, Rodrigo Assumpção. Ele também chamou atenção que a Dataprev contém mais de 90 milhões de registros de todos os trabalhadores brasileiros.
De acordo com a vice-presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Processamento de Dados, Serviços de Informática e Similares (Fenadados), Telma Dantas, o Serpro é estratégico para o Governo Federal, pois detém o maior banco de dados do Brasil, o qual é utilizado para gerar novas informações e desenvolver sistemas que dão ao governo a possibilidade de financiar o Estado e implementar políticas públicas. “Privatizando o Serpro, o maior risco é o governo perder sua autonomia, entregando nas mãos da iniciativa privada o seu maior bem: informação”, acrescentou.
A diretora jurídica da Fenadados, Débora Sirotheau, acentuou a importância de haver uma legislação que coíba o uso abusivo dos dados, lembrando que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais só entrará em vigor a partir do segundo semestre de 2020. Além disso, ela apontou que a lei que cria a Autoridade Nacional de Proteção aos Dados sofreu nove vetos presidenciais.
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados, Serviços, Computação, Informática e Novas Tecnologias da Informação do Estado do Ceará (SINDPD), José Valmir Braz, é necessário que os funcionários do Serpro e da Dataprev se unam aos trabalhadores de outras empresas que também estão correndo risco de serem privatizadas, como Correios e Banco do Brasil. “Não somos mercadoria, queremos soberania. E soberania só se dá com muita luta”, frisou.
O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Will Pereira, sugeriu transportar o debate para as câmaras municipais, as quais, segundo ele, são as bases dos deputados federais. “Nossa proposta é construir uma frente para somar com os parlamentares que queiram somar à luta dos trabalhadores, independentemente de partido”, reiterou.
BD/CG