Durante a abertura do evento, o deputado Renato Roseno (Psol), relator do Comitê Cearense pela Prevenção de Homicídios na Adolescência da AL, colegiado responsável pela iniciativa,destacou que o Ceará saiu da 24ª posição entre os estados, no ranking da violência de adolescentes, e passou a ser o segundo mais violento nessa faixa etária, nos últimos 15 anos. O parlamentar destacou que, por isso, é importante que a situação seja avaliada e que sejam apontadas soluções para o problema.
“Há 16 anos, eram apenas 50 casos de morte de jovens por ano, e os números já eram considerados graves. Hoje há 10 vezes mais homicídios entre adolescentes no Estado, porém praticamente não são investigados os crimes”, frisou Roseno.
Também participou da abertura o representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), professor Rui Aguiar, que perguntou “a quem interessa essa violência”. Segundo assinalou, o comitê vai trazer respostas a essas e outras perguntas ligadas às mortes de pessoas jovens no Ceará.
A programação da manhã envolveu palestras das professoras Helena Martins (doutoranda em Comunicação pela Universidade de Brasília e integrante do Conselho Nacional de Direitos Humanos); Flora Daemon, da Universidade Federal Rural Fluminense, e a gerente do monitoramento de mídia da Agência de Notícias dos Direitos da Infância, Suzana Varjão. Ainda no período da manhã, aconteceu palestra do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Michel Misse, doutor em Sociologia.
Suzana Varjão destacou que a gerência de monitoramento de mídia criou, recentemente, um instrumento capaz de medir quantitativamente e qualitativamente os programas policialescos, “que diariamente transgridem diversas legislações”. Ao todo, conforme apontou, foram identificadas 77.760 infringências, em um mês, nos 28 programas monitorados, em todo o País, sendo 19 de televisão e nove de rádio.
De acordo com a especialista, essas seguidas transgressões levam à formação de uma cultura de violência, através de exposições indevidas de pessoas (1.704 casos), incitação à violência (1.451), violação ao direito do silêncio (614), discursos do ódio (17 casos), entre tantos outros.
A professora Helena Martins, por sua vez, assinalou que a cultura da violência gerada a partir dos “programas policialescos” reflete também a cultura do medo que se instala na sociedade. Ela assinalou que essa mesma cultura já se irradiou para a internet, com pelo menos 140 mil denúncias de racismo e crime do ódio, praticadas por meio de páginas na rede de computadores, reportadas ao site Safer Net, que combate esses crimes.
A professora Flora Daemon observou que há entre os praticantes de crimes a mesma necessidade de publicização de seus atos de qualquer pessoa comum, que produz um selfie para disponibilizá-lo em redes sociais. Então, segundo ela, o que precisa é mudar a cultura das pessoas que vivem em meio à violência, para coibir a banalização da criminalidade.
JS/AT