Deputados do PMDB apelaram para o direito à ampla defesa dos envolvidos, mas elevaram o tom contra o correligionário cearense Aníbal Gomes
( FOTO: BRUNO GOMES )
Os deputados peemedebistas da Assembleia Legislativa discordaram dos encaminhamentos dados pela última fase da Operação Lava Jato, nomeada de Catilinárias, que realizou, ontem, busca e apreensão em residências de integrantes do PMDB, incluindo o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o deputado federal cearense Aníbal Gomes. Enquanto teve quem defendesse a renúncia de Cunha e a celeridade no processo de expulsão de Aníbal Gomes, outros apelaram para o direito à ampla defesa dos envolvidos.
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Na Operação Catilinárias, ainda foram alvos de investigações as casas dos ministros Henrique Eduardo Alves (Turismo), Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), do senador Edison Lobão (PMDB-MA) e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.
Logo em seguida, o Conselho de Ética da Câmara Federal decidiu, por 11 votos a nove, continuar o processo contra Eduardo Cunha, seguindo o que propõe o relator do caso. Cunha é acusado de manter contas secretas no exterior e de ter mentido sobre a existência delas em depoimento à CPI da Petrobras, em março.
"Eu tenho dito que nossa crise não é política ou econômica. Nossa crise é ética e moral e, acima de tudo, da falta de bom senso dos políticos", disse o deputado Leonardo Araújo (PMDB). Na avaliação do parlamentar, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, deve ser afastado do cargo que ocupa "sob a pena de levar para desconsideração geral a classe política como um todo".
O deputado peemedebista defendeu que existem políticos de boa índole e destacou que, independentemente do partido ao qual são filiados, os malfeitores precisam ser afastados imediatamente do poder público.
"Eu tenho me manifestado nesse sentido, independente do partido. Me manifesto pelo afastamento do Eduardo Cunha e agora também do (senador) Renan (Calheiros). Nós precisamos passar o País a limpo", defendeu. "Não é simplesmente expor para a população o que está acontecendo, é criar uma situação que se coíba que as novas gerações caiam nisso", opinou.
Palanque
Ele ressaltou também que o deputado Aníbal Gomes, do PMDB do Ceará, não faz parte da base administrativa do partido, que hoje faz oposição ao Governo do Estado, mas está envolvido na base governista de apoio à gestão Camilo Santana. "Ele esteve no palanque do Camilo Santana nas eleições passadas", disse.
O parlamentar lembrou que há um processo de expulsão do colega, mas, assim como Eduardo Cunha, segundo disse, há táticas empreendidas por Aníbal Gomes para atrasar sua expulsão. "Acredito que, com o agravamento da situação, o deputado deva ter o processo concluído e saia do PMDB", ressaltou.
Já o deputado Walter Cavalcante (PMDB) foi mais comedido em seu discurso, recorrendo ao direito de defesa dos acusados. "Se tem alguma suspeita, e essa suspeita é documentada, que se comprove. Cabe o ônus a quem acusa. O Ministério Público tem que mostrar tudo o que está sendo ordenado. Se o Ministério Público e o juiz acharem que há culpados, eles têm que ser punidos", alegou.
Cavalcante afirmou que o papel empreendido pela Polícia Federal está sendo feito de forma correta. "Quando envolve peemedebista cearense, a gente vê isso com muita tristeza", lamentou o deputado.
O líder do PMDB na Assembleia Legislativa, o deputado Audic Mota, afirmou que, no que diz respeito ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o partido tem posição de que tudo deva ser apurado. "Se o Eduardo deve, ele que pague. Mas que seja assegurado o direito de defesa", ressaltou. Quanto a Aníbal Gomes, Audic Mota relatou que o correligionário é "infiel" e não votou com o partido nas eleições do ano passado, quando o senador Eunício Oliveira foi candidato a governador contra Camilo.
"Quem tem que dar explicações por ele é o governador Camilo Santana, que é aliado dele. O Aníbal frequenta o Palácio da Abolição, é aliado do governador. Não é aliado do PMDB do Ceará. Não tenho constrangimento em dizer isso", ressaltou.
Sobre uma possível renúncia de Eduardo Cunha do cargo de presidente da Câmara Federal, o líder do partido na Assembleia afirmou que o Conselho de Ética da Casa é quem deveria ter dado uma resposta mais célere, uma vez que de nada adiantaria sua renúncia sem que fosse denunciado pelo colegiado. "O cumprimento dos prazos regimentais devem ser seguidos. Não só contra o Cunha, mas contra a Dilma também. Tem ação que está no Tribunal Superior Eleitoral desde o início do ano", apontou.
Culpa
A deputada Silvana Oliveira (PMDB) afirmou que não se sente constrangida com a situação, mesmo que os envolvidos sejam de seu partido. Ela disse que avalia como positiva a ação da Polícia Federal, que vem cumprindo seu papel e tendo apoio da população. "Não gosto de fazer pré-julgamentos. O Eduardo Cunha terá tempo para dizer se ele teve ou não culpa. Em seu tempo, ele será julgado, isso se for considerado culpado", declarou.
A parlamentar afirmou que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff tem que ser analisado de forma diferenciada e não ser confundido com as denúncias contra irregularidades possivelmente praticadas pelo deputado Eduardo Cunha. "Esses dois pontos devem ser analisados de forma separada, cada um a seu tempo. Acredito que 2016 será um ano de arrocho grande. Se o povo trabalhar direito e o parlamento funcionar, vamos rapidamente fazer o Brasil crescer", ressaltou.
"O deputado cearense, tendo culpa, tem que ser punido. A gente não pode culpar só porque a Polícia Federal foi lá. Vamos ver o que tem contra ele. Mas eu não quero que uma pessoa culpada fique em meu partido. Se eles forem culpados, que sejam punidos", pontua Silvana Oliveira.