LAURA RAQUEL
Da Redação
Em entrevista exclusiva para o jornal O Estado, o deputado Capitão Wagner (PR) falou sobre sua possível candidatura à Prefeitura de Fortaleza em 2016, os prováveis nomes com quem poderia compor uma chapa, além de avaliar a gestão do atual prefeito Roberto Cláudio (Pros). Wagner tratou ainda da abertura do diálogo do atual governador Camilo Santana (PT) com a Polícia, sobre a atuação da corporação, e explanou a sua opinião quanto à redução da maioridade penal.
O senhor é apontado como um candidato em potencial pelo PR para as eleições em 2016. Vai aceitar o desafio?
Cap. Wagner. Hoje, o Partido da República tem a ideia de lançar um nome para disputar a Prefeitura de Fortaleza, acho que até pela má avaliação do prefeito Roberto Cláudio. E é natural que os partidos que têm nomes em potencial também queiram lançar candidatura como o DEM, PMDB, PSDB, PR, Psol e o PDT. Então, vamos ter vários partidos, seis a sete candidatos com potencial para vencer a eleição, e um pleito que vai ser definido no segundo turno. O PR tem essa disposição, o nosso nome é bom, até pelo resultado da última eleição, com 102 mil votos para deputado estadual, e isso credencia para uma eleição majoritária em Fortaleza. Nós não podemos achar que nós estamos independentes, nós trabalhamos em 2014, com o intuito de formar uma chapa competitiva para ganhar a eleição para o governo do Estado, não ganhamos, mas o desejo é de manutenção desse bloco partidário. O nosso nome está à disposição, mas existem outros nomes. Se o meu for o escolhido dentro do partido, vamos ter condição de apresentar um projeto para Fortaleza, e aceito com todo prazer a indicação.
Ficaria confortável se participasse de uma chapa com Luizianne Lins ou com senador Eunício Oliveira?
Cap. Wagner. O senador Eunício Oliveira, ele é cotado, hoje, para presidir o Senado Federal, teve um resultado expressivo na última eleição, perdeu por muito pouco. Em Fortaleza, ele foi campeão, tirou 170 mil votos a mais do que o governador Camilo Santana, e ele é um nome que deve ser respeitado. Não sei se ele tem a intenção, mas ele é um nome muito forte. Já o nome de Luizianne Lins traz a ideia de saudade da cidade. São dois nomes em potencial e com chance de ganhar uma eleição. Nós estamos conversando, mas é precipitado falar em coligação, chapa e vice-prefeito.
Na sua avaliação, Roberto Cláudio tem chances de se reeleger?
Cap. Wagner. A reeleição do prefeito Roberto Cláudio passa por esse período agora de um ano antes do período eleitoral. A população geralmente não tem a memória muito aguçada, muitas vezes quando um gestor nos últimos dias de mandato, ele faz obras e mostra alguma coisa, geralmente a população acaba se iludindo e acaba votando naquele candidato. Acho que o Roberto teve uma chance de fazer uma grande gestão; hoje não é um bom gestor, mas, logicamente, nesse último ano, ele tem sim a chance de viabilizar o nome dele para uma reeleição. Hoje, é muito difícil sua situação, porque, além de ele não apresentar resultados satisfatórios, ele têm adversários fortes. Se for relacionar, no Psol, temos o deputado Renato Roseno, no PDT, o deputado Heitor Férrer, o PMDB tem Eunício Oliveira, PRB com Ronaldo Martins. Tem uns partidos que têm nomes muitos bons, e que tem uma representação muito boa no município de Fortaleza. Acho que o prefeito tem dificuldades, até porque o partido que ele está hoje não tem tempo de televisão, ele não tem sequer o domínio do partido. A informação que a gente tem é de que nem para filiar eles têm a senha, por isso, o prefeito está procurando uma alternativa. Se for para o PDT, vai inviabilizar a candidatura do deputado Heitor pelo partido, ma não deixa de inviabilizar pelos outros partidos. Mas a situação não é fácil, mas em política não se podemos dizer que ninguém está morto. Vários candidatos que ninguém esperava que se fosse ganhar uma eleição, ganharam, como a Luizianne Lins, quando ganhou sua primeira eleição para prefeito, todo mundo dizia que não tinha nenhuma chance, e foi para o segundo turno e venceu a eleição. Fortaleza tem um eleitor que não se dá muito para fazer um prognóstico; o eleitorado sempre surpreende.
Sobre a maioridade penal, qual a sua posição?
Cap. Wagner. É preciso que se tenha um debate intenso; o Ceará tem, hoje, uma série de dificuldades com relação ao seu sistema penitenciário. Eu visitei recentemente alguns presídios: o presídio feminino, por exemplo, tem capacidade para 350 detentas, mas tem, ao todo, 744. Os presídios masculinos estão todos superlotados, e, quando se vai para os centros educacionais para o jovem ser ressocializado, todos também estão superlotados. Acho que os jovens de 16 e 17 anos, eles têm capacidade perfeita de discernir o que certo e errado. Sou a favor de reduzir, mas desde que se faça uma reforma no sistema penitenciário. A informação que temos é de que, no sistema, novos dados apontam para 22 mil presos, com mais 60 mil mandados de prisão em aberto; geraria, então, 80 mil presos, em um sistema em que só cabem 13 mil, e, se eu trouxer os adolescentes, de forma nenhuma vamos ter capacidade de ressocializar.
Camilo abriu o diálogo com a Polícia, e vocês até conversaram. Ele tem cumprido o que prometeu?
Cap. Wagner. Nós conversamos com o governador no sentido de permitir que a categoria fosse mais escutada pela gestão, não necessariamente pelo governador, haja vista ele ter uma agenda muita complicada. Mas a informação que a gente tem recebido por parte da categoria é que a recepção é muito boa. Os dados referentes à redução de homicídios tem muito a ver com esse diálogo, porque, se for registrar, o governador cortou cerca de 20% dos recursos da Secretaria de Segurança, mesmo assim, a Pasta apresenta dados positivos. A gente sabe que a sociedade não está satisfeita, ninguém está, os índices ainda são muito altos. Mesmo com as dificuldades na comunicação das viaturas, armamento, corte nas cotas de combustível, está ocorrendo a redução nos homicídios, e isso está beneficiando a sociedade. Se o governador repassar para SSPDS, os 20%, os resultados ainda seriam maiores. Nós sugerimos ao governador a criação de uma Secretaria de Políticas Sobre Drogas, e ele criou. Essa ideia está no nosso plano de segurança que nós registramos ano passado, antes da campanha eleitoral, e ele implementou a ideia que pode ser uma solução para o problema das drogas no Estado. Claro que não existe apenas esta solução, mas, trabalhando a política preventiva com jovens, a gente pode ter uma redução a médio e a longo prazo.
A polícia mudou?
Cap. Wagner. Sim. Hoje, o policial é muito mais qualificado, já era na gestão passada. Hoje o policial necessita ter nível superior, e até no Corpo de Bombeiros, que é nível médio, a maioria dos candidatos possuem nível superior. Então, há uma qualificação boa. O grande desafio do governador é manter essas pessoas na instituição. Nós temos um registro de que várias pessoas criticam de quando um policial é assassinado, facilmente um bandido é capturado e preso. Nesse momento, todos os policiais que estão de folga e de serviço, eles fazem esforços para alcançar esse objetivo. Por isso ratifico: Se tivesse um número suficiente de policiais civis, militares e Corpo de Bombeiros, nós teríamos uma segurança pública de qualidade. É necessário dar mais estrutura para essa polícia poder trabalhar. A Polícia e o Poder Judiciário do Ceará são muitos deficitários; há 30 anos, nós tínhamos 4.500 policiais civis; hoje, são apenas 2.300. Esse é o principal fator que gera a impunidade, porque muitas vezes, a Polícia Militar prende, mas a investigação é mal feita e, mais à frente, o advogado acha uma brecha e solta. Na questão da impunidade no Estado e o que desfaz o trabalho da polícia, é essa questão do judiciário estar sendo investigado da venda de alvarás de soltura e de habeas corpus por parte de criminosos.
O secretário Delci Teixeira tem feito uma boa gestão?
Cap. Wagner. A principal vantagem do secretário é a abertura. Até por ser de fora, ele tem consultado o Comando Geral da Polícia Militar, o delegado-geral da Polícia Civil, e colocou como secretário-adjunto, o ex-comandante da Polícia Militar, o coronel Prado que conhece o nosso Estado e o sistema de segurança. Acho que ele está sendo humilde, para permitir que essas pessoas que conhecem o Estado, elas possam lhe auxiliar e lhe apontar quais as principais falhas no sistema. No início, houve um boato que ele queria entregar a Pasta, mas o governador, empenhado na questão, assim como afirmou em campanha, afirmou que iria cuidar pessoalmente da questão da segurança, não permitiu isso acontecer.
Qual a sua avaliação do prefeito Roberto Cláudio?
Cap. Wagner. O prefeito, no início da gestão, mostrava para a sociedade a preocupação na área da Saúde. Ele começou a reformar os postos, com estrutura boa, com ar-condicionado, com TV e, após alguns meses, a insatisfação tem aumentado, principalmente na área que ele se comprometeu ser sua prioridade. No último ano, isso se agravou, nós temos dificuldades para ter acesso a medicamentos nos postos de saúde, os dentistas não tem o insumo básico para fazer qualquer procedimento odontológico. Isso dificulta muito o trabalho dessas pessoas. Ainda, nos postos de saúde, pessoas com recibo de pagamento autônomo, fato que mostra tamanha precariedade. A dificuldade não é só na área da saúde, mas, quando a gente vai para a área de mobilidade, muito embora, ele tenha tentado com novas medidas melhorar o trânsito, há uma reclamação muito grande. Na Avenida Bezerra de Menezes, eu que moro lá perto, a reclamação é geral. Sendo duas faixas para ônibus e duas faixas para veículos. Então, eu acho que está faltando o prefeito escutar mais a população, ouvir mais a sociedade e está faltado ele visitar a periferia, visitar o Bom Jardim, o Henrique Jorge, Genibaú, João XXIII, e são bairros que não são do domínio do prefeito, mas ele tem que saber , tem que visitar, para saber sobre os problemas específicos. Na questão da segurança, ainda não foram implementadas as medidas que ele prometeu em campanha: prometeu a triplicação do efetivo de guardas e, até hoje, nenhum guarda foi contratado. E a gente espera que, na reta final, o prefeito possa fazer uma virada e mostrar à sociedade que ele está comprometido.