Na reta final para o encerramento do ano legislativo, deputados estaduais têm tido divergências para conciliar debates acerca da conjuntura política nacional do País e demandas de ordem local. Há mais de uma semana, desde que o presidente da Câmara Federal, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o tema vem sendo exaustivamente discutido na Assembleia Legislativa cearense em detrimento de outros assuntos antes predominantes. A tramitação da Lei Orçamentária Anual (LOA) e do Plano Plurianual (PPA), que devem ser votados até o fim dos trabalhos legislativos, é outro ponto que vem tomando tempo dos parlamentares do Poder Legislativo. Na manhã de ontem, o líder do Governo na Casa, Evandro Leitão (PDT), ainda conversava com alguns colegas tentando acordar as emendas que foram apresentadas por eles às matérias do Poder Executivo. Desde a semana passada, os deputados levaram para a tribuna do Plenário 13 de Maio mais de uma dezena de temas relacionados às discussões entre Planalto e Congresso Nacional. Desde o repúdio às ações do presidente da Câmara Federal até a carta enviada pelo vice-presidente da República, Michel Temer, à presidente Dilma Rousseff, passando por críticas à gestão petista e a defesa do impeachment. Ainda na sessão de ontem, o assunto foi pauta de discursos dos parlamentares. Alguns deputados insistiram em debater temas locais, como segurança no trânsito, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará, custeio para hospitais, dentre outras temáticas. Porém, o principal assunto tratado por eles ao longo de uma semana foi a crise política federal. O deputado Carlos Felipe (PCdoB), apesar de destacar a importância de debate sobre a conjuntura nacional, ressaltou que o assunto está sendo tratado de forma excessiva por seus pares, argumentando que há questões locais que não podem ficar em segundo plano. "A proporção está maior do que deveria", avalia, ressaltando que temas como a seca não podem sair da pauta de discussões da Casa. Incisivos O parlamentar reconhece, entretanto, que a situação nacional tem chamado a atenção de todos, destacando ainda que as medidas do Governo Federal têm relação direta com as discussões locais. Felipe destacou que os debates têm sido mais incisivos no Ceará, alegando que a conjuntura política local se assemelha com a nacional. Enquanto em Brasília parte do PMDB é oposição a Dilma, que é filiada ao PT, no Ceará o partido é oposição declarada ao Governo Estadual, até porque foi derrotada no pleito para governador com a candidatura de Eunício Oliveira. "Nesta semana tem muita assunto local importante que deveria ser discutido, como essa questão das pensões dos servidores públicos. As emendas do orçamento também são importantes, pois vão dar um norte para o Estado no próximo ano", defendeu o parlamentar. Já o vice-líder do Governo, Júlio César Filho (PTN), afirmou que, quando o assunto em âmbito federal afeta a vida dos cearenses, é pertinente que o tema seja abordado com maior empenho pelos parlamentares na Casa Legislativa. "Esses assuntos que estão sendo tratados em nível nacional influenciam de forma direta nossa Casa, porque a crise acaba aumentando a queda nos repasses do Fundo de Participação dos Estados (FPE). Tudo o que acontece lá reflete na economia aqui. Por isso, esses temas têm sido recorrentes", disse. O deputado salientou ainda que, quando há problemas em alguns municípios, o tema é levado à tribuna da Assembleia Legislativa por haver um interesse por parte de alguns parlamentares em discutir o assunto. Interesses A deputada Silvana Oliveira (PMDB) declarou que "a Casa não pode fingir que não está acontecendo nada". Para ela, há interesse da oposição e da base governista em discutir os interesses do Ceará, mas não poderia deixar de se pronunciar sobre o que ela chama de "a maior crise política e econômica do País". A peemedebista opinou que, apesar de os discursos terem tratado de questões relacionadas ao Congresso Federal e ao Palácio do Planalto nas últimas sessões, hoje, com a votação de matéria que trata da previdência dos servidores estaduais, muitos deputados abordarão a situação do Estado. Para Fernanda Pessoa (PR), "o Governo fica mais aliviado" quando não se discutem assuntos localizados, como questões relacionadas à saúde, segurança pública e seca. "Você nota até que a Casa fica mais dispersa, com menos parlamentares em plenário. A situação do Ceará é gravíssima. Quais medidas foram tomadas para com a seca? A saúde está um caos e a população está cheia de tanta conversa", criticou a republicana. Segundo ela, há muito assunto a ser tratado sobre o Estado, mas muitas vezes a base governista, conforme relatou, se defende dizendo que o assunto é "requentado".