Em Milhã, a Creche Comunitária Criança Feliz fechou. População de Quiterianópolis disputa água nos raros poços existentes. Já em Brejo Santo, os prejuízos se estendem principalmente para a produção leiteira, onde o gado sucumbe na zona rural
Fortaleza. O fechamento de creches, escolas e postos de saúde está acontecendo em Milhã, Itapajé e Irauçuba. Para que a situação não se generalize nas localidades onde se vive o colapso no abastecimento de água, o Corpo de Bombeiros socorre de forma emergencial com veículos de suas unidades para atendimento nas sedes.
m Milhã, a 315 quilômetros de Fortaleza, a crise no abastecimento atingiu a Creche Comunitária Criança Feliz, localizada na sede, e a Escola de Ensino Fundamental José Pedro de Lima, em Passo Verde. A falta d´água também prejudicou o funcionamento do posto de saúde de Carnaubinha, distrito que passou 12 dias sem contar sequer com água dos carros-pipa.
"Estamos fazendo todo o possível para que as unidades de ensino não fiquem fechadas e assim possamos concluir o calendário escolar", disse, ontem, a secretária de Educação, Erantelma Holanda.
Assim, quando as escolas fecham, os professores transferem os conteúdos para trabalhos a serem feitos nas residências dos alunos com acompanhamento dos educadores.
Ontem, um caminhão-pipa do Corpo de Bombeiros com 40 mil litros se deslocou para Milhã, onde creches e escolas já interromperam o funcionamento pela falta d´água. Segundo informou o coordenador da Defesa Civil do Estado, coronel Gilberto Tavares Araújo, a ação é uma resposta ao clamor feito nesta semana pelo prefeito José Cláudio Dias (PMDB).
Tavares disse que a água tanto transportada pelo Corpo de Bombeiros, quanto pelo Exército, é tratada pela Companhia de Água e Esgoto (Cagece) ou tratada com pastilha de cloro. Ele informou que uma nova reunião do Comitê Integrado de Combate à Seca, marcada para a próxima segunda-feira na cidade de Russas, poderá apresentar novas localidades onde se verificam o quadro de colapso hídrico. Residente em Carnaubinha, Ana Maria Martins Ferreira disse que o problema é ter água para consumo humano.
"A água que tem chegado por carro-pipa não serve para beber. Desse modo, quem tem dinheiro compra água boa, quem tem bebe aquela que chega salobra e inadequada para consumo", disse Ana Maria. Ela informou que preocupa o fechamento dos postos de saúde.
Afinal, a comunidade está localizada a 18 quilômetros da sede, onde está situado o hospital mais próximo. A comunidade não dispõe de ambulância.
Quiterianópolis
"Se a situação atual persistir pelo mês de dezembro, no início do ano não teremos como abrir postos de saúde e escolas no município". A afirmação é do chefe de gabinete da Prefeitura Municipal de Quiterianópolis, Costa Júnior, ao tratar sobre o colapso de água que o município enfrenta como consequência da grave estiagem. No Açude Colina, que abastece a cidade, há vários meses não há água de qualidade para consumo, nem para cozinhar e higiene pessoal. A população utiliza apenas para serviços de limpeza.
A zona rural está sendo atendida pela Operação Pipa, com 18 caminhões. A sede com uma carreta de 35 mil litros, semanalmente. A Prefeitura já pediu o aumento no número de veículos à Defesa Civil. Teme estado de calamidade pública a partir de janeiro de 2013.
Conforme Júnior, por enquanto, a água para os postos de saúde, escolas e a população da zona urbana está sendo garantida por meio da carreta que abastece a cidade com água proveniente do Açude Flor do Campo, do município de Novo Oriente. Mas é insuficiente.
Para complementar, populares pegam água em carros e motocicletas na zona rural, em alguns poços profundos. As pessoas que têm maior poder aquisitivo compram água de carros-pipas particulares com valor em torno de R$ 100. Trazem água de poços próximos.
Quem quer água de melhor qualidade compra dos carros-pipas que trazem água do município de Assunção, no Piauí, cuja água é vendida a R$ 40.
Irauçuba
Em Irauçuba, o professor Flávio Sousa diz que, desde o início do mês, a situação está bastante grave, até mesmo para as pessoas que buscam o produto para consumo humano.
O Açude Jerimum, construído na década de 1990, tido na época pelos políticos como a solução para a falta d´água, encontra-se atualmente com 10% de sua capacidade hídrica.
Brejo Santo tem economia em baixa
Fortaleza A seca deste ano já causou um prejuízo de R$ 18.716.400,00 aos agropecuaristas de Brejo Santo, segundo relatório da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Agrário e da Ematerce. Cerca de 1.154 cabeças de gado morreram. Como cada uma custa em torno de R$ 600,00, o prejuízo é de R$ 692.400,00.
Neste município, a situação da seca é das mais preocupantes. Segundo levantamento da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Agrário e da Ematerce, o maior prejuízo é com a quantidade de animais que perderam peso. São 20.576 animais nesta situação. Com relação à produção leiteira, a estimativa é que houve uma queda de 50%. Como os criadores deixaram de vender quase dois mil litros de leite, o prejuízo foi de R$ 1,5 milhão.
Reservas
Outro aspecto grave é com relação ao nível de água dos açudes, numa comparação aos últimos sete anos. Em 2005, as bacias hidrográfica terminaram o período chuvoso (por volta do mês de junho)- com 71% de água armazenada; em 2006, o percentual foi semelhante: 70 %; em 2007, a quantidade de água armazenada caiu para 62 %; em 2008, subiu para 85%; em 2009, aumentou ainda mais. Para 96%; Em 2010, caiu para 79%; e em 2011 caiu para 85%.
A maior preocupação é que até o fim da quadra chuvosa deste ano o armazenamento dos açudes era de apenas 69% até chegar a cerca da metade. Atualmente, os açudes monitorados pela Cogerh e pelo Dnocs acumulam apenas 51% de água. Um número considerado preocupante para o deputado Wellington Landim (PSB), ao levar em conta que a Funceme ainda não fez qualquer previsão de chuva por duas razões. O Oceano Pacífico mostra-se numa posição de neutralidade e o Atlântico não deu nenhuma sinalização de chuva. Com isso, aumentam as especulações de quadra chuvosa para a pré-estação abaixo da média histórica do Ceará.
Reservas
51 por cento são o percentual das reservas hídricas do Estado, consideradas as baixas já verificadas no Ceará nos últimos sete anos
Mais informações:
Cogerh: 3218.7661Funceme: 3101.1117SDA: 3101.8105Defesa Civil do Estado: 199Ciops: 193
MARCUS PEIXOTO/ SUCURSAISREPÓRTER