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ATA DO SEMINÁRIO DA CAMPANHA QUEM CALA CONSENTE - CAMOCIM - QR Code Friendly
Sexta, 22 Junho 2012 08:52

ATA DO SEMINÁRIO DA CAMPANHA QUEM CALA CONSENTE - CAMOCIM

  ATA DA AUDIENCIA PÚBLICA DA COMISSÃO DE INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA PARA DISCUTIR O SEMINÁRIO REGIONAL “QUEM CALA CONSENTE”, REALIZADA EM CAMOCIM NO DIA 12 DE AGOSTO DE 2011.   SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS  MAGNÓLIA CASTRO: Bom dia senhores e senhoras. A Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, através da Comissão de Infância e Adolescência, tem a honra de realizar aqui no município de Camocim, o 3º Seminário Regional da Campanha Quem Cala Consente, Violência Sexual Contra Criança e Adolescente é Crime. A iniciativa tem como objetivo, sensibilizar e conscientizar a sociedade cearense para o combate ao abuso e a exploração sexual infantojuvenil. Além de Camocim, este seminário recebe representantes dos municípios de Chaval, Barroquinha, Granja, Martinópolis e Uruoca. O Circulo de seminários regionais, irá percorrer as principais regiões do Ceará, reunindo representantes dos 184 municípios Cearenses até junho de 2012. A Campanha ‘Quem Cala Consente’, percorrerá 21 municípios onde estão localizadas as Coordenadorias Regionais de Desenvolvimento da Educação, CRED. Desde já, a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, na pessoa do presidente da Comissão da Infância e Adolescência, a deputada estadual Beth Rose agradece a Secretaria Estadual de Educação, a 4ª CRED e a Prefeitura Municipal de Camocim pelo apoio. Nesse momento, iremos fazer a composição da Mesa de abertura desse seminário convidando: - O prefeito de Camocim, o senhor Francisco Maciel Oliveira; - A deputada estadual Bethrose, presidente da Comissão da Infância e Adolescência da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará; - O presidente da Câmara de Vereadores de Camocim, o senhor Carlos Vasconcelos; - O secretario municipal de educação, o senhor Fabio Silva; - A senhora Elvira Fernandes, Coordenadora da 4ª CRED e - A psicóloga e escritora, doutora Helena Damasceno. Convidamos agora a todos os senhores e senhoras aqui presentes, para ficarmos de pé para a execução do hino nacional brasileiro, e na sequência o hino do Estado do Ceará. Gostaríamos de convidar o senhor secretário municipal de educação, Fábio Silva, para também fazer parte da Mesa de abertura. Nesse momento nós vamos ouvir a fala das autoridades da Mesa de abertura. Convido para fazer uso da palavra, o prefeito municipal de Camocim, o senhor Francisco Maciel Oliveira. SR. FRANCISCO MACIEL (Prefeito de Camocim): Bom dia. Como sempre em primeiro lugar eu quero agradecer a Deus, pela oportunidade de permitir estarmos juntos em um evento de suma importância para a realidade das quais hoje estamos vivendo. Como prefeito eu fico muito feliz de estar aqui nesse momento com vocês. Quero aqui já iniciando, parabenizar a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, que é a Casa do povo, e que dá um exemplo para cada um de nós conseguir de uma forma significativa de informação, de ensinamento, para as pessoas. Então, quero aqui parabenizar o presidente da Assembleia, deputado Roberto Claudio, a deputada Bethrose, que é presidente da Comissão de Infância e Adolescência, que dentro de muitas atribuições, está conosco. Ela já esteve em alguns municípios e vai estar em mais outros ainda, e nós estamos cientes. Eu quero aqui acolher aos outros municípios que estão presentes conosco, muito obrigado, dando um exemplo de engajamento, de responsabilidade, de compromisso, que nós entes públicos, e prefeitos, juntamente com todas as pessoas que fazem a administração, possamos realmente estar engajados nessa luta. Eu quero aqui como prefeito, só dizer que nós temos procurado dar a nossa contribuição. Eu vejo aqui também a presença de muitos jovens, e eu acho que a maior contribuição que nós podemos dar para essa luta contra a exploração sexual, é a informação. O jovem informado, ele está preparado para dizer não. Então, eu quero aqui parabenizar a vocês jovens que estão aqui conosco e cada um de vocês que já participaram de outros eventos nossos também, aqui do nosso município contra a exploração sexual, outras lutas, outros combates. A gente tem sempre contado com a presença de vocês. Eu quero que vocês jovens sejam portadores dessas informações, que sejam formadores de opinião na escola de cada um de vocês, e até mesmo dentro das nossas casas, dos nossos lares. Então, eu fico muito feliz de ver vocês aqui conosco. No mais eu quero agradecer a todas as instituições que estão aqui conosco, diretores de escolas, funcionários, que também estão todos interligados com essa luta.  E dizer ao pessoal do Conselho Tutelar aqui conosco, da ação social, que gentilmente tem procurado contribuir de forma significativa nessa luta. E ficamos felizes por termos também a Assembleia engajada nessa luta. Muito obrigado de coração a cada um de vocês. E que Deus nos ilumine e possa fazer com que esse seminário de hoje possa ser muito proveitoso. E que nós possamos realmente continuar sempre ascendendo essa luz, essa fogueira do combate a exploração sexual, a exploração dos jovens e adolescentes. Muito obrigado e até a próxima oportunidade, se Deus assim nos permitir. SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS MAGNÓLIA CASTRO: Acabamos de ouvir as palavras do prefeito de Camocim, o senhor Francisco Maciel Oliveira. Nesse momento, convido para fazer uso da palavra o secretário municipal de educação, o senhor Fábio Silva. SR. FABIO SILVA (Secretário Municipal de Educação): Bom dia. É com muito prazer e alegria que nessa manhã eu gostaria de iniciar cumprimentando a Mesa das autoridades, na pessoa do prefeito municipal, Francisco Maciel Oliveira, Chico Vaulino, como é popularmente conhecido. E aqui, deixar na verdade o meu agradecimento, enquanto secretário municipal de educação desse município, a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, na pessoa da deputada Bethrose, que é presidente da Comissão de Infância e Adolescência. E nesse momento colocar para nós que ao escutar, por exemplo, o hino nacional, sempre me chama muita atenção para a responsabilidade de sermos mais cidadãos, e mais conscientes. E de mostrar também que temos força, na verdade, e que precisamos lutar para que esse Brasil de fato tenha outra cara, outra vivência, a oportunidade de ser um País melhor, aonde as crianças e os adolescentes não tenha só a escola, mas eles tenham toda uma aldeia que é necessária para educar uma criança.  Então, nós precisamos chegar a um ponto em nossa sociedade em que a criança quando ela chegar à escola, ela não saiba aonde é que a escola começa, e aonde é que termina o bairro, porque todo aquele bairro é um espaço de educação, de liberdade e de cidadania. Isso só é possível quando nós, enquanto sociedade, não só enquanto governo, mas enquanto sociedade começarmos a perceber a necessidade que essa criança tem de ser criança. A necessidade que esse adolescente tem de viver na sua plenitude. O que é ser adolescente, por quê? Porque o que a gente tem visto em muitos contextos na verdade, é ter uma infância roubada, é ter na verdade negado o seu direito de ser criança, de ser gente, de na verdade pensar em uma nova forma de vida. Ontem eu conversava com alguns professores da educação infantil, sobre a importância do brincar na escola, e eu comecei a me fazer uma pergunta, quem foi que já disse, já ouviu, já presenciou alguém contando algo para outra pessoa, e que quando contava o outro olhava e dizia assim: Está brincando, não é? Eu acho que vocês também já escutaram. Então, o que isso significa para nós? Que brincadeira não é coisa séria. Então, a gente já tem um contexto histórico, que vai mostrar que brincar não é importante, que ser criança não é importante, e a gente tem essa chaga terrível da exploração e do abuso sexual de crianças e de adolescentes. E para a gente resolver isso, eu acho que tem que ter aquilo que está na bíblia: Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens de boa vontade. E eu acredito que os homens e mulheres de boa vontade nessa manhã estão aqui. SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS MAGNÓLIA CASTRO: Acabamos de ouvir as palavras do secretário municipal de educação, senhor Fábio Silva. Nesse momento convidamos para fazer uso da palavra a coordenadora da 4ª CRED, a senhora Elvira Fernandes. SRA. ELVIRA FERNANDES (Coordenadora do 4º CRED): Bom dia a todos e a todas. Gostaria de saudar inicialmente a deputada Bethrose, já parabenizando por essa iniciativa, por ter feito desde a Comissão da Infância e Adolescência na Assembleia Legislativa, iniciou esta discussão, e parece-me ter uma história, uma proporção bem menor. E que veio realmente, desejar sucesso nesse momento inicial nesta discussão em todo o Estado do Ceará, em todas as regionais, trazendo para essa discussão da sociedade. E buscar a efetivação não só da garantia dos direitos da criança e do adolescente, mas também dessa nova temática, que graças a Deus nós estamos discutindo. Porque pelo menos no slogan do Seminário Quem Cala Consente, se nós estamos discutindo é porque nós não queremos permitir que essa situação se estenda, e se alastre pelo nosso Estado. Então, parabéns deputada, a toda a sua equipe que vem mobilizando o Ceará nessa direção. Gostaria de saudar o prefeito, Chico Vaulino, agradecer a acolhida que nós estamos tendo aqui nesse evento, saudar o professor Fábio e em nome dele eu queria saudar os demais secretários municipais presentes, ali também junto com o professor Norberto aqui do município de Granja. Gostaria de agradecer também a todos os diretores das escolas estaduais aqui presentes, dos nossos municípios e principalmente de aproveitar essa oportunidade para parabenizar, porque todo dia é dia do estudante, porque você passa 200 dias letivos na sala de aula, e essa é uma garantia que nós devemos sempre ter na nossa cabeça. Tanto quem está na parte governamental, como a sociedade civil. Nós estamos para garantir a efetivação desse direito de vocês. Então, eu queria parabenizar a todos vocês, estudantes e que todos os alunos ficassem de pé para que nós pudéssemos saudá-los com uma salva de palmas. Então parabéns, que vocês continuem nessa caminhada de sucesso, e nós estamos também engajados com vocês. Gostaria de parabenizar também e registrar a importante missão do Conselho Tutelar nessa garantia inédita.  Eu acho que a gente tem que garantir a paz, como o Fábio falou, a harmonia, solidariedade. Então, não é luta pela garantia, é realmente o trabalho voltado mais efetivo para as crianças. E aqui eu queria registrar a pessoa de todos os conselheiros tutelares que estão presentes. Eu gostaria também, porque eu só conheço os de Camocim, estou vendo o Chiquinho, a Edilene, mas com certeza tem os outros conselheiros. E eu queria que eles se apresentassem para a gente poder também homenageá-los. Só não é voluntário por que tem uma remuneração, mas é uma dedicação. Eu admiro muito o trabalho de vocês, e queria parabenizá-los. E dizer que a gente das escolas, professores, temos uma parcela muito grande de colaboração nessa caminhada. Porque a partir do momento que eu sou professora, e eu vejo que o meu aluno hoje chegou com uma pequena mancha, ele está triste, está cabisbaixo, está faltando, e a gente procurar realmente conhecer a vida desse nosso aluno, nós vamos estar também colaborando e dizendo não a essa situação. Então, nós temos que denunciar visitar todos os líderes, irmos a todas as escolas. A Comissão para que realmente fique em alerta, se pronunciar, se possível, para dar os encaminhamentos necessários. E a gente espera que não precise acionar essas Comissões nas escolas, que realmente, as crianças, os jovens sejam respeitados. Mas nós precisamos traçar ações para prevenir que isso aconteça. Eu acho que esse é o ponto da manhã de hoje. E nós estamos aqui para colaborar com o que for necessário.                 Espero que a gente tenha uma manhã excelente de trabalho, e que possamos na realidade sair daqui com as suas estratégias voltadas para essa questão. Muito obrigada e tenha todos, um bom trabalho. (Aplausos) SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS MAGNÓLIA CASTRO: Acabamos de ouvir o pronunciamento da senhora Elvira Fernandes, Coordenadora da 4ª CRED. Convidamos agora para fazer uso da palavra, a deputada Estadual, Beth Rose, presidente da Comissão da Infância e Adolescência, da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará. (Aplausos) SRA. DEPUTADA PRESIDENTE BETHROSE (PRB): Bom dia, a todos e a todas. Cumprimentar a Mesa, agradecer a todos vocês que estão aqui, agradecer o apoio do prefeito, o Chico Galinha, a Coordenadora da 4ª CRED de Camocim a professora Elvira, a palestrante, que é a Helena Damasceno, que é psicóloga e escritora, que está nos acompanhando, e todos desse Seminário, o secretário da educação do Município de Camocim, professor Fábio.                 E saudar todos vocês, aqui de Camocim, que estão nos recebendo o 2o Seminário da Campanha quem Cala Consente, Violência Sexual, contra Criança e Adolescente, é Crime.                 Gostaria de saudar também todos os municípios que aqui se encontram: Chaval, Barroquinha, Martinópoles Meruoca, Granja, e dizer que é uma satisfação muito grande. Agradeço aqui de coração todos os representantes desses municípios, dentro de uma classe que eu respeito muito, os Conselheiros de Direito da Criança e do Adolescente e os alunos, também, da Escola Estadual do Grêmio Estudantil, agradeço a vocês. Vocês vão ser muito importantes, para que realmente esse seminário tenha o objetivo alcançado e vocês vão ser multiplicadores. Só para vocês terem uma noção, já é o 3º  Seminário. No Seminário de Itapipoca nós tivemos 60 representantes, dos Municípios da CRED de Itapipoca que são 15 municípios, são 600 pessoas. No primeiro Seminário em Acaraú, foram 300 e agora juntamente com vocês, a gente pensa no total, quando nós chegarmos aos 21 seminários, que nós vamos terminar em Fortaleza, em Maracanaú. Vão ser mais ou menos 10 mil multiplicadores neste tema tão relevante, para a nossa sociedade, que ocasiona tanta comoção. Mas a gente tem essa comoção na hora que a gente vê o Jornal Nacional, quando a gente vê o CETV falando que é uma criança de 2 anos foi abusada.                 Então, a Comissão da Infância e da Adolescência não quis trabalhar só no dia 18 de maio. Não adianta a gente comemorar essa data falando no dia, não adianta isso. Nós pensamos todos aqui, da Comissão, o que a gente poderia fazer para poder não se comover só no dia 18 de maio.                 Resolvemos caminhar no Ceará, através da CRED, onde a gente consegue mobilizar os estudantes, e sempre fomos muito bem recebidos. E a importância maior, é chegarmos ao final, e ver que se fez alguma coisa. Se a gente conseguiu salvar uma criança, dessa perversão sexual, que geralmente essas crianças são abusadas na sua própria casa. Elas poderiam ser protegidas, e não é nenhuma autoridade que tem poder para prevenir isso. Mas a gente queria alertar, com esse material, que a gente está entregando, exatamente, para se ter condição de identificar e alertar aos pais, as pessoas mais próximas, para que a gente possa evitar que essa criança seja covardemente abusada. São crianças indefesas, tanto no abuso como no ato da exploração que se aproveita exatamente da vulnerabilidade das crianças para poder explorar sexualmente delas. Então, eu agradeço. E vamos começar o trabalho, vamos repassar para a nossa palestrante. Eu agradeço de coração, de poder contar com vocês, com sugestões. Porque nós também durante esses 6 meses, que a gente vai falar mais tarde quando formos fazer o grupo de trabalho, depois gostaria de anunciar juntamente com vocês, para que a gente pudesse realmente participar ativamente deste seminário.                 Agradeço também a TV Assembleia, que está nos acompanhando. Porque não é nada fácil, quando a gente vê isso aqui, tudo organizado, mobilizado, mas a coisa é de proporção bem maior para a gente chegar a isso aqui. Mas eu agradeço a todos vocês, em nome do prefeito, em poder estar aqui, agradecendo a Deus. E eu tenho certeza, que a gente vai tentar pelo menos, mobilizar mais, todos nós, a sociedade, para denunciarmos e não esquecermos o disque 100. Fazer com que a gente ajude, porque exatamente o objetivo maior do seminário, é a gente mobilizar, denunciar e discar o 100 em qualquer suspeita no caso de violência.                 Muito obrigada, mesma, olhando para cada um de vocês. E vamos iniciar o trabalho, agora chamando a nossa palestrante, doutora Helena Damasceno. Bom dia, para todos. Nós agradecemos a Mesa de abertura, vamos desfazê-la e convidar a palestrante, a psicóloga escritora, doutora Helena Damasceno para que ela possa prosseguir os trabalhos.                 Gostaria de agradecer a presença do secretário da educação, de Granja, professor Roberto, e também o vereador Cleber. Agradeço pela presença de todos. SRA. HELENA DAMASCENO (Psicóloga e Escritora):       Bom dia, a todos e a todas. Eu me chamo Helena Damasceno, prefiro dizer que eu sou escritora, que eu acho que tem um charme muito maior. A gente estuda para ser psicóloga, para ter uma profissão, mas eu acho que é a vida, que ensina a gente a ter o dom de escrever.                 Eu prefiro dizer que eu sou escritora. Eu acho que escrever é tirar de dentro, mostrar, apontar um norte e dizer que esses são os caminhos. Eu tenho 38 anos, acabei de fazer agora, no dia 13 de julho, e o Estatuto da Criança, e do Adolescente, é muito invejoso, fez 19 anos, no mesmo dia que eu, mas eu tenho muito orgulho de fazer aniversário no mesmo dia dele.                 Aliás, o Estatuto da Criança e do Adolescente faz aniversário no meu dia, porque eu tenho 38 anos, e ele só tem 19.  Digamos que somos primos, digamos, mas eu me orgulho muito. O meu bom dia a todos e a todas. Eu me orgulho muito de fazer parte da Campanha de Quem Cala Consente, porque discutir a dinâmica da violência sexual, tirar esse pavor, esse véu, sobre a violência, sobre o abuso e a exploração sexual, é algo tão importante, que quanto mais à gente discute, mais importante fica.                 Eu sempre costumo contar uma história, mas eu até falei que não ia contar porque enjoei, mas eu vou começar de cara. Eu sou sobrevivente de violência sexual intrafamiliar.  O que é isso? Eu me chamo Helena Damasceno, tenho 38 anos, e aproximadamente dos meus 5 a 6 anos, até os 19 a 20 anos, eu fui vítima de violência sexual, dentro da família. Mas a família não é um lugar de proteção, um lugar de segurança, onde a gente aprende dignidade, cidadania, carinho, amor, tudo isso eu sei. Mas infelizmente, para algumas crianças, para algumas adolescentes e para muitas de nós isso não acontece.                 A maior parte, a maioria avassaladora dos casos de violência sexual se dá dentro de casa. O abuso sexual é uma relação de confiança, de poder e de afeto. Porque a criança, a adolescente ela admira, ama e confia no seu agressor.                 Por isso é tão difícil falar, é tão difícil dizer para alguém, dizer para um adulto, dizer para um tio, para uma tia, para mãe, para um professor, para quem quer que seja, é dificílimo falar. Poxa, lá dentro da minha casa está acontecendo isso.  Como é que você vai dizer se tem uma série de sentimentos, uma série de coisas complexas, e difícil demais, acontecendo dentro de você? E como é que você vai dizer para alguém, que alguém que está te abusando, é alguém que você ama, que você admira, que você confia.                 Não é tão fácil assim. Existem muitas organizações nessa célula para você enfrentar.    Eu gosto muito de citar a Madre Teresa, de Calcutá,           quando ela dizia: Chame-me para a luta que eu não vou, mas me chame para algo a favor da paz, que eu vou.                 Então hoje, em todo esse momento, a gente está discutindo, não a violência, não o enfrentamento dela, mas a dimensão dessa violência e a dignidade. O acesso a delicadeza, a gentileza, como essas crianças podem ser atendidas, como essa violência pode ser identificada, interrompida, e como elas podem ter qualidade de vida.                 Primeiro: Será que é possível, uma vítima de violência ter qualidade de vida? Eu sou a prova cabal que sim. Profissionais, Conselheiros Tutelares, professores, diretoras de escolas, psicólogas, assistentes sociais, adultos que estão na linha de frente, atendendo diretamente crianças e adolescentes.                 Acreditem é possível ter qualidade de vida, tendo sido vítima de uma violência tão drástica, tão vil. Eu vou contar um pouco da minha história, para pontuar a vocês algumas fases da teoria e costurando um pouquinho. Eu divido a minha história em três momentos. O primeiro eu chamo de um exercício direto de violência, o segundo de exercício indireto e o terceiro de a resimplificação.                 O primeiro momento é um exercício direto de violência, aconteceu quando tinha entre 5 a 6 anos, até 19 a 20 anos.  E o abuso acontecia diretamente, dentro da casa da minha mãe onde eu morava. Qual é a minha configuração familiar? É necessário que se diga que o abuso sexual, que a violência sexual, ela não vem sozinha.                 É como se fosse uma caixinha cheia de coisas. Ali naquela caixinha não tem só violência sexual. Tem a violência sexual, tem a negligência, tem a omissão, tem o que a gente chama de bullying. Mas tem a ameaça psicológica, tem a violência física e uma série de outras violências, que agregam e somam a essa caixa maior, na violência sexual.                 Por que isso acontece? Porque numa família, a gente está falando de uma violência intrafamiliar. É uma família que compactua com aquilo de alguma maneira, porque somente a maior parte delas, se omite e não fala, não quebra, não interrompe essa violência e ela é perpetuada. E pasmem, de geração para geração. Em geral, as famílias onde suas crianças são vítimas de violência sexual, elas não são crianças que são vítimas apenas uma vez. No meu caso, por exemplo, que na grande maioria é igual, no meu caso é absolutamente igual, a maioria avassaladora dos casos.                 Por exemplo, 87% dos casos de violência sexual no Brasil, acontecem dentro de casa. Desse índice, 78% são por pais, os outros, padrastos, tios, primos, e os outros. Então, são pessoas da maior e absoluta confiança e convivência dessa criança, dessa família.                 Vamos falar no meu caso, esse primeiro momento todo, que eu chamo de exercício direto era quando existia uma configuração familiar que me tornou uma criança vulnerável, aquela situação. Portanto, as pessoas vítimas de violência, elas não são vulneráveis a vida inteira. Elas estão vulneráveis dentro da sua configuração familiar. Qual era a minha e qual é a da maioria? É uma família que não dialoga, que não tem, como é que eu posso dizer, a gente não tinha uma demonstração de grande afeto, as pessoas não se tocavam. Então, a gente se falava mais no grito, nas ordens, na distância, aquela criação bem tradicional.                 Minha família é uma família abastada, não é uma família, como é que eu posso dizer assim, sem os recursos materiais, ao contrário, sempre fui de uma família abastada, sempre tivemos muito acesso a cultura. Esses clichês que a gente usa e diz: Ah, mas isso só acontece com os pobres, com as famílias ricas não acontece não. A violência sexual é uma violência extremamente democrática, ela está em todos os lugares, em todos os espaços e em todos os níveis.                 Independente de organização familiar, de grana, de qualquer coisa, de nível de status social, independente de qualquer coisa. É uma violência extremamente cruel. Eu acho que foi a deputada que falou ou foi aquele rapaz que falou sobre a infância ser um lugar de inocência. E gente como é. Hoje a gente não tem muito noção disso de ver uma criança, e como se compadece de uma criança. A infância é a etapa mais significativa do desenvolvimento diante da concepção da estruturação de um sujeito. E quebrar isso, ensinar para uma criança que a violência é algo comum, banal, natural, é transformar esse adulto que vai ser em algum momento, em alguém que vai retrucar de alguma maneira. Eu não estou dizendo que essa criança vai se tornar um agressor, não é isso, mas ele vai replicar a violência de algum modo, em algum lugar. Como é que faz? Eu fui vítima de violência, não sabia que aquilo significava violência. A criança confunde isso com afeto, porque a pessoa que ela admira é o tio, é o pai, que abusa de você, que ameaça psicologicamente, e emocionalmente. E até que a criança entenda que aquilo é errado, a violência ganha proporções gigantescas. E vale ressaltar que violência sexual é gradativa. O estupro é o mais alto grau de violência sexual. Antes dele tem um degrau imenso que o agressor sobe e que obriga a vítima a subir. Ninguém é estuprado da noite para o dia, não em caso de violência intrafamiliar, não com agressores sexuais que tem na criança a confiança e a proteção da convivência da sua família. Esses agressores sexuais que a gente ouve em série, na rua que pega uma criança e agridem eles são em série é outro tipo, outro perfil e não é a maioria. A maioria dos agressores sexuais está infelizmente, dentro das nossas casas. É tão difícil falar sobre isso, como é que você denuncia, como é que você para uma violência de alguém, que você ama? Como é que você acredita? Como é que se credibiliza isso? É preciso dizer que a fala das crianças, o sofrimento das crianças, precisam ser valorizados, precisam ser legitimados. As marcas da violência, vocês não estão vendo nenhuma marca em mim, não há nenhuma marca física em mim. Mas as marcas são invisíveis, os números da violência, são invisíveis, algumas vezes impenetrantes. É muito difícil acessar uma pessoa que foi vítima de violência. Deixe-me falar desse primeiro momento, que eu chamei de exercício direto, é quando a violência acontece cotidianamente, dentro de casa, e por que é direto? Porque estava dentro de casa e não tinha nenhuma forma de defesa. Lembrando que hoje nós estamos em 2011, temos uma rede que para e discute. Nós temos Conselheiros Tutelares, nós temos os Conselhos de Direito, delegacias especializadas, assistentes sociais, a gente tem uma rede imensa, que estuda, se prepara para prevenir e atender essa pessoa, vítima de violência sexual. Há 20 anos, 25 anos, não tinha nada disso, ao contrário, a gente tinha um tabu muito maior, um silêncio muito maior. E até que eu entendesse dentro de uma família que não dialogava, que não discutia absolutamente nada, com toda frieza do mundo, como é que eu poderia entender que aquilo era uma violência e como eu poderia me libertar dela? Eu passei muito tempo sem entender. E como é que eu sei que a violência começou mais ou menos, aos 5 6 anos? Porque eu não sei, não sei, não sei mesmo. O primeiro momento, gente, como começou, sabe por quê? Porque se confunde a subjetividade da gente. Na psiquê, tem um termo chamado recalque, todo mundo usa dessa palavra, ah, fulana é recalcada. Fulana é recalcada está no senso comum. Mas o recalque que eu vou tentar explicar para vocês, é o seguinte: Você tem uma informação, um trauma, uma coisa que é profundamente dolorosa para você tocar, e o inconsciente faz o quê? Ele recalca aquela informação, ele guarda. É como se ele pegasse e colocasse numa caixinha aquela informação para que em algum momento quando você estiver pronto, preparado para lidar com aquela informação, aí surge, colapsa. Antes disso, está lá recalcado, guardado. Por isso, que às vezes, a gente chama o povo de recalcado, de santa, é muito retraído.                 Eu recalquei uma série de argumentos, uma série de sofrimentos, para entender, começar a entender que tudo aquilo que eu vivenciava era violência. E por que eu recalquei? Porque eu era uma criança. Uma criança é um ser em desenvolvimento, em constante desenvolvimento. Uma criança, um adolescente, não tem ainda uma estrutura de personalidade, uma estrutura de subjetividade, absolutamente formada.                 Por mais que os adolescentes não gostem de ouvir isso, eu também não gostava, mas é verdade. Nós estávamos sempre em metamorfose sempre. E na adolescência, esse é um período de maior efervescência, porque as coisas são novidades sempre.                 Então, eu recalquei todos os medos, toda a vergonha, todo o temor e toda a culpa. Quais foram os sinais que eu dei para que a minha família percebesse que havia alguma coisa errada? Em geral, e aí gente, não são regras, evidentemente os seres humanos não são caixinhas onde a gente organiza as coisas de forma linear, nós somos complexos e sistêmicos, não são regras absolutas, mas são indicativos. Uma criança, ela muda, e muda de uma forma drástica. Ela está numa ponta e ela vai para outra ponta. E eu era uma criança extremamente ativa, alegre, e feliz. De repente eu me retraí, as minhas notas no colégio despencaram, eu comecei a ter uma série de transtornos. Um deles, por exemplo, hoje, a gente chama de dislexia. Sou dislexa até hoje, adquiri de uma forma extremamente peculiar de aprendizagem. Então, eu não conseguia aprender como os meus colegas aprendiam, eu aprendia de uma outra forma. Eu tentava aprender por associações.  Eu olhava um símbolo e tentava dar um significado pessoal para eles, senão eu não conseguia aprender. Eu apanhei muito para conseguir aprender. Lembram daquelas outras violências que elas vinham agregando, somando na caixa maior do abuso.                 A família vai sempre silenciando. E tem uma série de mitos, por exemplo, um deles: Ah, isso é muito comum, quando ela crescer, ela esquece, isso passa. Não passa e não esquece. E se não tiver um atendimento multidisciplinar, um atendimento psicológico, via psicossocial mesmo, para aquela criança, para aquela adolescente, e para aquela família, a gente não sabe o resultado final dessa operação.                 Porque é como se fosse uma operação. A gente está lá, X mais Y, é igual, a uma bela interrogação. Tem uma criança somada a uma violência, numa negligência de ordem imensa e a gente não sabe em que resultado vai dar. O ser humano que aprende que a violência é algo facultado, que ele pode usar disso como ferramenta de sociabilidade, nenhum ser humano que vai ter um mínimo de equilíbrio e tranquilidade para ter relações saudáveis, durante a vida.                 Eu tive muito medo, muito medo a vida inteira. Algumas situações, elas foram tão dolorosas, e não se preocupem que eu não vou contar nenhuma situação, muito mesmo como eu me sentia. A gente tem como consequência, no abuso, por exemplo, baixa auto-estima. Por muito tempo eu me perguntei o que é baixa auto-estima? Quando uma pessoa é triste, mas como é essa tristeza? Eu não entendia. E como eu passei muito tempo estudando tecnicamente, o que eram aqueles sintomas, que eu sentia, que eu não sabia, eu ficava questionando na minha história, onde tinham esses sintomas de baixa auto-estima.                 E eu encontrei a vítima de violência, faz isso de forma muito comum. E eu estou dizendo de novo que não é uma regra, mas sim indicativos que os pais, os professores, os amigos podem ficar alerta. O que eu fazia, por exemplo? Eu passava de 15 dias inteiros, sem tomar banho, sem escovar os dentes, sem pentear esses lindos cabelos cacheados. E vocês imaginam como era um cabelo desses, sem pentear e sem molhar. Sem trocar de calcinha, sem fazer nada, sabe por que eu fazia isso? Eu estava um zumbi, eu sempre digo isso, quando eu era criança, eu só tinha cabelo, orelha, e olho.                 Porque eram as únicas coisas que salientavam. Eu era magra, um zumbi. Sabe um zumbi? Uma pessoa que você olha no olho, e não vê a menor vida, sem ter vida, era assim que eu era, feia meu Deus, oh! criatura feia, sem nenhuma vida. Eu passava todo esse tempo me autoflagelando, me sabotando, tendo pena de mim, porque doía tanto, gente, mas doía tanto, eu tinha tanto nojo, tanto nojo que eu precisava que todo mundo visse isso. De alguma maneira, não era possível, eu pensava, alguém vai perceber. Alguém dessa casa vai perceber que tem alguma coisa errada, e ninguém percebeu. Porque na verdade dentro da configuração intrafamiliar, dentro dessa família, ela silencia, por conta desses mitos, por conta de uma tradição, por conta de que os vizinhos vão falar, o que as pessoas vão dizer. Quando ela crescer isso passa.                 A gente manda esse cara para o Interior, a gente faz alguma coisa e não dizemos nada, a gente cala. E o próprio nome da campanha aqui, é Quem Cala Consente. A gente chama isso de omissão, inclusive passiva de punição pela lei do Estatuto da Criança e do Adolescente.                 Calar enquanto você sabe que uma pessoa, e eu sou suspeita de que uma pessoa está sendo vítima de violência sexual, é permitir que essa violência continue. Ninguém dentro da minha casa, nenhum adulto, porque gente, se é difícil para uma criança, para um adolescente falar, é preciso de que uma pessoa, fora da família ou fora daquele núcleo familiar perceba e interrompa.                 Não espere que a criança, que o adolescente, vá falar deliberadamente. É vergonhoso falar disso, dói demais. O agressor, ele faz uma coisa em todas as vítimas, isso é comum. Ele diz a culpa é sua, foi você que me seduziu. E sabe por que elas acreditam nisso? Porque são os adultos que dizem, que essa criança, que essa adolescente, ama, admira e confia.                 Dentro da família dela, existe uma pessoa que abusa, e essa pessoa diz que a culpa é dela. Acontece que foi você que me seduziu, é você que não presta, é você que é uma vagabunda, tudo isso a gente acredita. Primeiro, porque a gente está em construção, somos crianças, somos adolescentes. Ninguém tem ainda uma estrutura completamente fechada, e mais ainda, são pessoas que a gente confia. Então, se são pessoas que a gente confia, está certo. Não dizem para mim, que eu tenho que obedecer aos meus pais, que obedecer aos mais velhos? Que eles que tem razão? Que eu não tenho vontade? Que eu não tenho interesse? Que eu sou adolescente, sou criança, não sei de nada. Então, eles estão certos. Com as outras violências, uma série de consequências, vão absorvendo, vai tomando conta na vida dessa criança. O medo, a baixa auto-estima, a culpa, a vergonha, e ela se retrai, se tranca ou agride o mundo inteiro. E eu saí de um nível para outro com muita rapidez.                 De repente eu era uma criança tranquila, e passei assumir esses comportamentos, extremamente retraídos, andava cabisbaixa, com vergonha do mundo, e quando eu era criança. Quando eu passei a ser adolescente, eu passei a agredir as pessoas. A minha língua era desse tamanho. A minha mãe dizia que quando eu morresse ia ter dois caixões, um para mim, outra para minha língua. Mas só que eu não conseguia dizer para ela, porque eu era tão agressiva. E para quem, eu era tão agressiva.                 E por muito tempo com 5, 6 anos, porque se confundiu com a minha memória, o recalque nesse primeiro momento, foi mais ou menos até os 19, 20 anos, foram muitos anos. Foi toda a infância e o início da idade adulta, comprometeu ou deveria ter comprometido todo o meu desenvolvimento, psicológico, toda a minha estrutura.                 Mas, se ninguém fez nada, se ninguém disse nada, e já fez tanto tempo, em algum momento acreditei e comecei a me questionar, mas não é possível, que eu seja tão burra, eu ouvi isso todos os dias. Pais reflitam sobre isso, os filhos acreditam no que vocês falam. Eu ouvia isso todos os dias, ou menina burra, você não serve para nada, todos os dias eu ouvia isso.                 E eu acreditei nisso, e como eu acreditei, porque era das pessoas que eu amava de quem eu ouvia isso. E eu amava sim, e isso é tão confuso na cabeça da criança, há um impasse da adolescente também. Ao mesmo tempo, que ela odeia aquele cara, ela o admira, fica tudo muito confuso. Por isso é que quando são os pais, é mais difícil ainda falar. Quando é o padrasto, a gente consegue ver algumas crianças, algumas pessoas se rebelando, mas quando é o pai, é mais difícil ainda. Tentei me matar várias vezes, porque eu achava se ninguém vai fazer nada, eu preciso fazer alguma coisa, e tentava me matar. Não conseguia, e dizia para mim, eu sou tão covarde, que nem para me matar eu sirvo, eles têm mesmo razão. Um dia eu me rebelei para caramba, disse que queria estudar em outro colégio, por quê? Porque a minha mãe ia me deixar e buscar, me vigiava para caramba, é um outro indicativo. Esses pais que ficam muito cercado encima da criança o tempo todo, é um indicativo, não é regra, é um indicativo, da minha mãe, porque ela tinha muito medo de que eu falasse para alguém, ela ia me buscar. Às vezes, ela assistia à aula comigo e me trazia.                 Porque ela tinha medo que eu falasse para os professores, que eu falasse para algum colega na sala. Eu consegui que me colocassem em outro colégio. Mas a que preço, e a que custo? Sabem esses colégios que tem prova de seleção? A minha tia era professora nesse colégio, um colégio importantíssimo em Fortaleza, chiquérrimo. E ela disse: Vamos fazer o seguinte, eu vou te trazer a prova, resolvida, e tu só decora. Então, está certo.                 Ela fez isso, trouxe a prova, e Edu fui estudar para decorar, só isso, só tinha o trabalho de decorar. Aconteceu o quê? A violência sexual, gente, ela é cotidiana, o agressor ele não precisa de uma arma, ele não precisa de uma faca, ele não precisa de um revólver, ele não precisa de nada disso. O olhar dele, a presença dele, é a grande ameaça, porque tem poder. Ele olha para você e diz: Se você falar alguma coisa, eu digo para a sua mãe que você é uma vagabunda, que você não presta. E a gente acredita nele. Ninguém questiona, e como todas as pessoas da família a gente acha que sabem e não dizem nada, eles são coniventes então você merece sofrer, porque você é burra, porque você não sabe fazer nada.                 Então, as outras violências, elas vão justificando, a violência sexual intrafamiliar. Evidentemente, que a violência sexual aconteceu de forma cotidiana. O que aconteceu? Fui fazer a prova super feliz, porque era um colégio longe e eu ia poder ir de ônibus, sozinha, voltar para casa sozinha, e dizer ainda demorei porque o ônibus demorou. Eu ia poder respirar, e passar alguns instantes, sem a presença daquele homem a me vigiar. Aconteceu que a minha tia alguns dias depois da prova, tinha certeza, que eu tinha feito uma prova, show. Minha tia chegou em casa bradando, nem para decorar uma prova você sabe, você não vale nada, não presta para nada, você nunca vai ser ninguém na vida. Ela trouxe a prova para me mostrar, e eu tirei um zero. O nome daquilo era dislexia, eu resolvi a prova toda, ao contrário, toda diferente, toda do meu jeito, e nenhum professor considerou. E o que a minha tia fez? Quando eu olhei para aquela prova e vi o zero, eu dizia para ela: Eu não compreendo, eu decorei. E eu não conseguia dizer para ela o que tinha acontecido, porque eu não sabia.                 De repente, quando ela disse isso, você é burra mesmo, eu parei e disse que era verdade. Eles têm razão. Eu sou realmente burra, eu vou parar de lutar, de questionar isso, porque eu acho que mereço sofrer, Deus esqueceu de mim eu não presto mesmo, eu nasci para sofrer.                 E parei, parei de questionar, parei de sofrer. É nesse momento que a violência assume um caráter muito mais cruel. E de fato os estupros começam acontecer de forma mais efetiva, e eu me trancafio no meu mundo, passo assumir outras conseqüências. Eu descobri a bebida, o álcool, eu descobri o cigarro, como fuga, porque eu queria não me matar, eu acho que eu nunca quis me matar de verdade. Eu queria que aquela dor acabasse ali, que o álcool de alguma maneira, Frida Kahlo diz isso: As minhas mágoas estão no copo de álcool, mas eu bebo para acabá-las, mas as danadas sabem nadar. Então, as mágoas sempre dão um jeitinho para escapar. Eu jamais conseguiria escapar. Na verdade eu queria que um dia eu tomasse um litro de alguma coisa, e quando eu acordasse tudo aquilo fosse mentira, que eu de fato eu tivesse uma família saudável, amorosa, afetiva, que tivesse me ensinado a ser uma pessoa de bem e ideais, uma família protetora.                 Eu achava que isso ia acontecer, e isso nunca aconteceu. Só que quando entra o segundo momento, eu disse não, eu cansei disso, eu preciso fazer alguma coisa, por mim, e o que eu fiz? Arrumei as minhas coisas, isso foi em 1992.                 Eu acho que 1992 era a época mais romântica do que hoje em dia, que de alguma forma era menos difícil, menos perigoso, mas mesmo assim ainda muito arriscado sair de casa, arrumar alguns panos. Eu tinha acabado de entrar na faculdade. Fui para a faculdade dormir. Na verdade eu passei as duas primeiras noites dormindo numa parada de ônibus, depois fui para o banheiro da faculdade, fiquei dormindo lá. E eu toco violão, e ficava você me dá dois dias, na sua casa para dormir, tomar banho, comer, que eu toco violão para ti. E assim eu fiquei, dois dias na sua casa, depois uma semana na casa do outro. Por que eu chamo esse momento de exercício indireto? Porque é quando eu saio da casa da minha mãe, esse agressor não me alcança mais, fisicamente, mas eu já tinha toda a violência dentro de mim.                 Todos os caminhos dele já tinham sido percorridos, de violência. Então, indiretamente, ele me alcançava, é quando eu assumo todas as consequências, e vem de uma maneira muito volumosa, e violenta. O medo, a dor imensa, toda a vergonha, a droga lícita, o álcool, o cigarro, como tentativa de fuga, de tentar de uma forma enlouquecida, me entorpecer, acordar e dizer que tudo aquilo foi um sonho.                 Eu perdi inúmeros empregos, perdi inúmeros namorados. Coloquei-me uma série de vezes a risco, porque eu queria de alguma forma saber se eles me amavam. Será que eles não me amavam, era por isso que eles falaram? Eu dizia: Será que se eu morrer, ficar em coma, eu vou vê-los? Vai não, nunca acontecia nada. Aconteceu uma vez, eu estava no meio da rua, completamente bêbada, porque eu ia para a casa da minha mãe biológica, para brigar com ela, eu dizia: Oh! está vendo isso aqui tudo, tudo isso aqui dói, faça alguma coisa, com isso aqui, cuide, tire essa dor dentro de mim.                 E eu não conseguia, só chegava lá, literalmente, eu vomitava, vomitava, vomitava, dormia, acordava e ia embora. Eu não conseguia falar, mas eu sujava a casa dela todinha, de alguma forma simbolicamente, eu fazia isso, eu falava.                 Uma vez, eu estava às 3 horas numa avenida muito movimentada, na cidade, andando sozinha, e eu dizia: Rapaz, bem que podia passar uma pessoa aqui, só para me matar. Então, passou um cara em uma moto, e disse: Sobe aqui, que eu te deixo em casa. E aí eu tive medo. Mas menino tu acha que eu vou subir na tua moto, eu não sei quem você é. Ele tirou o capacete, e disse: E agora você me conhece? Era um jornalista muito famoso na cidade naquela época. Fiquei com receio. E ele disse: Suba aqui rapaz, você numa hora dessa, pode acontecer alguma coisa. O cara me dando sermão. Mas sabe menino, criança, quando recebe um grito, não, eu vou para a casa da minha mãe. E ele disse: Suba aqui, que eu vou lhe deixar na casa da sua mãe.                 Subi na mota, ele me deixou na porta da casa da minha mãe, me deu um sermão, dizendo que era perigoso, e eu pensando, poxa, é exatamente isso que eu queria que alguém passasse e me matasse. E ele disse: Vou rezar por você. Naquele momento que ele disse isso para mim, vou rezar para você, de alguma maneira, eu entendi que eu precisava melhorar. Essa dor toda precisa sair de mim, essas consequências todas. Não é possível que eu tenha tanta culpa assim, aquele cara não podia, ele está enganado. E sofri gente, todas as conseqüências da violência de forma dantesca até 2004. Quando sem emprego, sem nenhum trabalho, sem amigos, sem nada, e sabe o que eu fazia? Todo dia, eu acordava, fumava, bebia, enchia a cara, ia para internet, saia da internet, ia encher a cara, dormia, acordava, foi a maior depressão que eu tive na vida, só sofrendo, só sofrendo. E eu não conseguia dizer para as pessoas porque doía eu tinha vergonha. As pessoas olhavam para mim e não entendiam, como é que eu tinha tudo para ser feliz. Você tem uma casa, você tem família. Hoje, como é que vai para casa, como é que diz para mãe, ela nunca vai acreditar em mim. Para a minha mãe, para a minha família, eu sempre fui irresponsável. Esse é um comportamento que a atitude de violência, aparentemente irresponsável, porque dentro dele está tudo bagunçado, o interior está tudo deslocado. E como é que você organiza alguma coisa fora, fora de você? Então, você grita, você esperneia, mesmo, para que alguém consiga entender que você está pedindo ajuda. E aí na maior crise depressiva, que eu tive, eu comecei a escrever uma carta muito ruim sobre mim, onde eu começo dizendo: Eu acho que esse inferno não vai acabar nunca, minha auto-estima é do tamanho de uma formiga.  E digo coisas terríveis sobre mim, e publico parte dessa carta no Orkut.                 Uma outra característica da vítima de violência, sexual,  é a seguinte: A gente acha, olha o que é a vergonha. A vergonha é tão grande, mas tão grande, que a gente acha o mundo inteiro, tem bilhões de pessoas, a gente acha que só a gente foi vítima de violência, essa é a vergonha. Como se o mundo inteiro fosse uma praça, cheio de gente e você no meio completamente nu e exposto, é assim que a gente se sente.                 Então, eu nunca tinha conhecido outra vítima de violência sexual. No Orkut, eu encontrei outras pessoas vítimas de violência sexual, a gente começou a conversar e trocar experiências. Foi nesse momento que eu percebi que precisava de ajuda.                 E sozinha, eu não teria conseguido, porque chegar perto da dor é doloroso demais, eu não conseguia lidar com ela. Então, eu procurei a ajuda de uma psicóloga, que conseguiu acender a luz, ela não foi e não é no outro que a gente encontra a salvação da gente, não é isso. Não é numa psicóloga, não é numa assistente social, não é nesse outro, que você vai buscar essa salvação. Porque a questão é que as pessoas só acendem a luz para você, para que você olhe e veja a bagunça, que está ao seu redor. Ela espera para que você se fortaleça, e comece a arrumar essa bagunça. Então, foi isso que eu fiz. Eu comecei a perceber e a me questionar, a grande pergunta da minha vida, e a grande pergunta que vítimas de violência sexual, devem se fazer: Eu tenho mesmo culpa? Não, eu não tenho culpa. Sabe, quando me perguntam: Porque você fala sobre isso, porque você não escreveu num livro, porque você não fala sobre isso? Primeiro porque eu não cometi crime algum. O criminoso é ele, não sou eu.  E segundo é porque eu acredito que tudo que eu passei, absolutamente sozinha, sem acesso a rede, a quem quer que seja, hoje, em dia, outras pessoas podem fazer acessando essa rede. E mais, eu digo para essas pessoas, que foram vítimas de violência sexual, de que sim, é absolutamente possível ter qualidade de vida e viver bem longe desse fantasma da violência sexual. Se você conseguir fala sobre isso, se libertando de culpas, medos e vergonhas.                 E digo para os profissionais, que atendem a essas crianças, acreditem neles. Desistiram de mim, muitas vezes, porque eu fiz terapia 3 vezes, com 3 psicólogos diferentes, desistiram de mim, todas às vezes, e eu ainda estou aqui, livre e tranquila, pronta para falar sobre isso.                 O abuso sexual é a porta de entrada para outra violência terrível, que é a exploração sexual. A gente hoje está falando de rede de atendimento, a crianças e adolescentes, e parece que esquece que tem outra rede, muito mais organizada, do que nós, diga-se de passagem, e que explora sexualmente nossas crianças.                 Hoje a rede de tráfico de seres humanos, de exploração sexual de crianças, de adolescentes, é a rede que mais dá dinheiro no mundo, mais que a droga, mais do que o tráfico de armas, e você sabe por quê? Porque a droga eu só uso uma vez, só uma vez. O revólver eu posso usar 2 ou 3 vezes, mas ele tem um limite também. Mas o corpo de uma pessoa, eu uso um milhão de vezes.                 Então, a maior parte das crianças, dos adolescentes que estão na rede de exploração, hoje, elas foram vítimas de negligências, de violência intrafamiliar, dentro de suas famílias. E qual é o alerta que eu trago para vocês? Cuidemos de nossas famílias, cuidemos de nossas crianças. Pais, mães é difícil mesmo interferir nessa violência, mas vamos acreditar que vai passar. Eu ouço às vezes as pessoas dizer: Ora, qual é o problema desse negócio de violência? Eu apanhei tanto, quando era criança e eu nem tenho problema com isso, nem tenho trauma. Eu tenho plena certeza de quando você sozinha no seu íntimo, relembra uma surra que você levou ou um tapa que você levou do seu pai, da sua mãe, isso lhe dói. Porque a violência não tem dignidade. Não há dignidade na violência, não deve ser um exercício de afetividade, de sociabilidade. A gentileza deve ser o exercício de afetividade. Se vocês me perguntarem se em algum momento eu pensei em me vingar desse agressor, dessa família, um milhão de vezes. Mas eu percebi que se eu fizesse isso, eu me transformaria no que eu mais detesto, neles, em cada um deles. Porque tem um cara que eu admiro para caramba, e eu li muito, eu me refugiei muito na literatura, eu sempre li demais. Tem um cara que eu descobri que se chama Mahatma Gandhi, que já morreu infelizmente, que ele diz que a gente precisa refletir um pouco. Olho por olho, e o mundo se tornará cego.  Enquanto eu não sair dessa de você me der um tapa, eu te dou outro, eu te dou outro, é que você não vai sair nunca. Hoje, dentro da minha família que é um insexogênica, eu não fui à primeira, não fui à única, e não fui à última vítima do mesmo agressor. Hoje, essa família, discute e interrompeu esse ciclo de violência dentro de uma família. Eu consegui fazer com que eles dialogassem, olhassem uns para os outros, através do diálogo. Eu nunca fui, e não espero ir atrás de nenhum tipo de vingança, ao contrário, o que eu pleiteio é a justiça, é a garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes, de que a gente estimule a gentileza, o otimismo e o respeito.                 Eu tive todas as oportunidades de mundo e todas as justificativas do mundo, para ser uma pessoa ruim. Eu podia dizer hoje: Ah! Eu sou ruim mesmo, porque aconteceu isso comigo e me humilharam. Não, eu prefiro transformar o que fizeram de mim, em algo positivo. E dizer para vocês é necessário intervir, interromper, uma violência sexual. É necessário que essa criança tenha um atendimento multidisciplinar, que se reúnam Conselheiros Tutelares com os vários setores. A educação, a habitação, a assistência, todo mundo se reúna, em prol dessa família, porque essa criança não vai esquecer, não vai esquecer.                 E isso eu digo para vocês, eu nunca, nunca, vou poder esquecer o que aconteceu comigo. Eu nunca vou poder voltar e apertar aquele botãozinho lá, e dizer que esse foi o primeiro momento, vou apertar, não vai. O que eu posso fazer é olhar de forma diferenciada. Por isso que esse é o terceiro momento. Eu ressignifico o que aconteceu. Eu não sou apenas isso, eu sou muito mais do que isso. Eu não preciso ser uma pessoa ruim, eu sou gentil, eu acredito na gentileza como possibilidade de relação, de afetividade, como demonstração de afeto. Eu acredito que nós, todos juntos, podemos acessar com dignidade a nossa infância, e restituir esses direitos, que por ventura tenham sido violados.  Eu vou terminar dizendo uma frase para vocês de um poeta amazonense e que eu amo que se chama Tiago de Melo. Nessa frase diz tudo que eu acredito, e tudo que eu acho que sou.  Ainda que o gesto me doa, eu não encolho a mão, eu avanço levanto um ramo do solo. (Aplausos). SRA. MESTRE DE CERIMONIAS MAGNÓLIA CASTRO: Legal Leninha, parabéns. Agradecemos a psicóloga e escritora Helena Damasceno, pela contribuição no nosso seminário. Nós gostaríamos que ela, falasse um pouco sobre o seu livro, sobre o seu trabalho. Nós distribuímos alguns papéis para quem quiser fazer perguntas, tirar algumas dúvidas. Porque agora ela vai fazer nesse momento juntamente com toda a equipe, que está aqui, realizando o seminário. SRA. HELENA DAMASCENO (Psicóloga e Escritora): Ah, gente, eu hoje esqueci de trazer o livro, mil perdões. O meu livro chama-se Pele de Cristal. Eu tenho produção do segundo livro, na verdade o terceiro, mas o segundo livro, sobre a violência, é um livro realmente muito lindo. Ele é todo subjetivo, e não trata, por exemplo, de cenas sobre a violência. Porque eu acredito que todos aqui imaginam como deva ser uma violência sexual. Ao contrário, eu não coloco isso, as cenas, eu coloco com toda a subjetividade como eu me sentia. E hoje, por exemplo, ele é utilizado na Universidade de Fortaleza, como referência para estudantes de psicologia. Ele é trabalhado em 2 clínicas de psicologia, por psicólogos, que trabalham com especialização na violência sexual, tanto no atendimento de crianças, como no atendimento de adultos.  Eu acho que essa pergunta que está aqui se refere um pouco a isso. Atender a um adulto, que foi vítima de violência na infância, é muito complexo. A gente vai tratar de uma pessoa que já tem uma série de caminhada, que já tem uma série de artifício, de atributos, de não tocar nessa dor.                 A pergunta é assim: Existem casos em que a criança, o adolescente, é abusada, mas não é ameaçada, ela cresce, e só lembra o que aconteceu depois. Qual a reação que apresenta no futuro? Como eu disse, não temos como responder a reação é X. Porque é uma variável que a gente não tem como saber. O que eu posso dizer para vocês é que eu passei muito tempo até que eu admitisse que isso não era verdade. A minha primeira psicóloga foi assim, eu fui e passei 1 ano chorando, chorando, quando eu consegui dizer para ela, eu fui vítima de abuso, mas eu perdoei, está tudo bem. E ela levantou o sapato bem alto, pisou no meu pé, eu senti dor, e gritei muito com ela. E ela perguntou: Doeu? Doeu. Então, por que você não está dizendo que dói? Porque a gente precisa materializar essa dor para poder acolhê-la e a partir daí ter ressignificá-la. Quando você coloca que ela não é ameaçada, eu coloquei na minha fala, o agressor, ele não precisa obrigatoriamente de uma ameaça de uma arma, por exemplo. A presença dele já é uma ameaça, ele é ameaçador. Tem uma música de Thedy Corrêa, que o Biquini Cavadão canta que se chama Camila, Camila, que é uma menina que tinha 17 anos que foi vítima de abuso, contou essa história para ele, e ele compôs essa música. E na música, ele diz assim: Olhos insanos. Os olhos de um agressor sexual eles são absolutamente mais ameaçador do que qualquer revólver, qualquer arma em punho. E essas lembranças, a gente não tem como responder no que pode dar. Mas com certeza não é uma pessoa que tem qualidade de vida, não é uma pessoa feliz. E é preciso que essa pessoa procure um atendimento psicológico, porque eu como eu disse, não é que um psicólogo vá te salvar, mas ele vai junto com você. Sabe aquele trabalho de arqueólogo? O arqueólogo faz o quê? Às vezes, ele quebra as coisas, e depois vai só passando um paninho ali, uma flanelinha. É assim que a gente lida com o conteúdo subjetivo de alguém. Às vezes, o psicólogo vai martelar, vai doer muito, depois ele vai só com um paninho soprando com muito cuidado. É preciso que a pessoa queira e esteja disposta a enfrentar. Mas para essa pessoa que escreveu, eu digo uma coisa, falar para um psicólogo sobre a violência, não é viver novamente. Então a dor que você vai sentir durante esse tratamento, não é viver de novo, é ressignificar, é olhar de forma diferenciada para esse sofrimento. A outra pergunta: Uma criança que é vitima de violência pode se tornar um possível agressor quando adulto? Deixa-me tentar explicar. Todo agressor sexual, pode ter sido vitima de abuso sexual, pode. Mas nem toda criança vítima de abuso sexual, pode vir a se tornar uma agressora, um agressor sexual, por quê? Porque existem outros elementos que vão compor a estrutura de personalidade desse sujeito. Não é só a violência que pode ser fundamental para essa criança. A violência vai ser um elemento importante a ser considerada nessa variável, mas não é determinante. Então, todo agressor sexual pode ter sido vítima de agressão sexual, mas nem toda criança vítima de violência sexual pode se tornar uma agressora sexual. Mas toda criança vítima de violência sexual, ela apresenta comportamento de agressividade, na verdade de defesa. Porque ela foi machucada. É igual a um gato que você agride, ele incha, se defende já para te afastar. Então, a criança ela apresenta traços de agressividade, mas não obrigatoriamente ela virá a ser um agressor sexual. A pergunta é se uma criança um bebê for abusado e quando adulto ela vai retornar? É isso? Existem casos na psicologia que diz que uma criança sempre vai. O nosso cérebro, por exemplo, ele registra absolutamente tudo que acontece ao nosso redor. A maioria das coisas a gente recalca porque não são interessantes. Nos sonhos, por isso que os sonhos são tão relevantes para a parapsicologia, esses conteúdos vem à tona de diversas formas.  O bebê ele não vai lembrar, ele não vai nem compreender aquela linguagem. Mas ele vai registrar, vai recalcar aquelas cenas evidentemente na psique dele no consciente. No futuro é muito improvável que isso venha se deslocar venha imergir, sair da sombra dentro de sonhos. Porque de lembranças a consciência é muito improvável. Ele não tem nenhuma estrutura para registrar isso de conversar de forma organizada. O bebê ele vai registrar, mas não vai entender o que é, porque ele não sabe o que aconteceu com ele. Então, ele vai recalcar, vai estar lá guardado. Em algum momento, por exemplo, 20 anos depois, essa criança cresce, esse é um exemplo hipotético, ele está assistindo a um filme, e tem uma cena com estupro, ele se sente mal. Ele não sabe explicar o porquê dele se sentir mal. E pode começar a surgir os sonhos, ele pode começar a ter sonhos onde ele é abusado ou onde aparecem pessoas sendo abusadas. E é importante que esses sonhos sejam considerados e ele seja atendido por um psicólogo, que tenha especialidade em atendimento dos sonhos ou em atendimento de violência sexual. Só, recordando, o bebê ele vai registrar, mas ele não vai ter consciência desse registro. Em algum momento isso pode vir à tona, como pode não vir. Em caso de denúncia: O que fazer quando você sabe de um caso, e você não sabe como lidar com isso? O interessante se você tiver abertura para conversar com essa criança, tudo bem, mas senão o interessante é fazer a denúncia. Como é que faz a denúncia? No Conselho Tutelar, ou no CREAS, mas eu não tenho coragem de ir até lá, eu não quero me identificar. Você pode fazer a denúncia, anonimamente. O sigilo é absolutamente garantido. O importante é fazer a denúncia. Porque enquanto você não denuncia, enquanto ninguém denuncia, a criança vai absorver mesmo que ela não esteja mais sendo vitima de violência sexual, de abuso, a violência estoura dentro dela. Então, ela vai assumir todas as conseqüências, ela vai sofrer indefinidamente. O ideal é que a gente faça a denúncia, sempre. Vá ao Conselho Tutelar ou ao CREAS, senão tem coragem telefona, não quer fazer se identificando, faz anonimamente. Está ali o número, disque 100, vocês podem procurar o Conselho Tutelar. Aconselho que vocês procurem o Conselho Tutelar e o CREAS na cidade de vocês. Foi o Conselho Tutelar que me fez essa pergunta? Qual é o primeiro procedimento a ser tomado pelo conselheiro tutelar ao receber denúncia de abuso sexual? Tinha que vir alguém do Conselho para responder, porque o primeiro passo é a notificação.  O Conselho recebe o caso, notifica ou para o Ministério Público ou para a delegacia especializada ou ele vai diretamente tentar averiguar essa denúncia. O conselheiro tutelar vai responder a pergunta que é mais específica do Conselho. SRA. EDILENE MOTA: Bom dia gente! Edilene do Conselho Tutelar de Camocim. Nós recebemos aqui em Camocim, muitas denúncias de abuso. Eu acho que os demais companheiros dos Conselhos Tutelares também e é como ela já falou, existe o sigilo da denúncia. Então, muitas vezes a pessoa não quer se dirigir até o Conselho, mas a gente trabalha muito em parceria com as escolas também, que ao perceber já encaminha para o Conselho Tutelar. Infelizmente, o que a psicóloga colocou aqui é exatamente o que acontece. A maioria das famílias, quando você se depara com a situação, a mãe é a que menos acredita na criança. Eu aprendi com a Ricardina, que é assistente social do CREAS e está aqui conosco, eu estou conselheira pelo segundo mandato, mas quando a gente tinha esses casos, já chamava lá no Conselho, notificava a família, a criança ou às vezes o adolescente.                 Então, uma das coisas que a Ricardina colocou muito que a gente aprendeu é não vitimizar a criança ou o adolescente a mesma situação. Geralmente, com a criança ou com o adolescente a gente não tem muito diálogo. A gente conversa com a família, inicialmente já encaminha, aqui em Camocim, nós temos o CREAS que trabalha com vítimas, que são crianças abusadas, enfim, todo tipo de violência, o direito violado, o CREAS trabalha.                 A gente encaminha essa criança para o atendimento, já psicossocial e posteriormente, também o agressor para que se faça o procedimento. Recebeu a denúncia, faz logo esse encaminhamento. Às vezes infelizmente nós temos problemas nesses encaminhamentos, quando você encaminha, no caso, a criança a que é vítima, ela já inicialmente muitas vezes, você nem precisa encaminhar logo o agressor, primeiro você tem que cuidar da vítima. Então, o primeiro momento é encaminhar ao CREAS. E o agressor, posteriormente a gente encaminha para a delegacia, para o Ministério Público. Eu fiz até uma pergunta a deputada, que eu estou sentindo falta aqui dos promotores, juízes da infância, dos delegados, que é onde nós temos os maiores problemas de fato, de efetivar essa punição ao agressor. Porque muitas vezes gente, na maioria das vezes, a criança que é vitimizada, ela é quem sai do lar e o agressor continua. Então, eu estou sentindo essa falta, eu até passei aqui para a nossa deputada, fiz essa pergunta que eu acho que é interessantíssima, a gente de fato vir aqui discutir, é interessante. Mas, realmente sair daqui e traçando um plano para que a gente possa mudar essa realidade, que não é só de Camocim. Quando a gente se depara com os demais companheiros, conselheiros da região, eu acho que sempre a conversa é a mesma. A criança que é vitimizada, ela é quem sai muitas vezes do lar e o agressor continua. Muito obrigada! (Aplausos). SRA. HELENA DAMASCENO (psicóloga e Escritora): É lamentável isso. Olha gente, eu vou responder só mais uma pergunta e eu acho que as outras podem ficar para serem respondidas no site. Olhe, tem várias perguntas aqui, é difícil escolher a última para responder, mas tem uma que eu achei bem polêmica e bom para desmistificar.  Há casos, em que vítimas de violência sexual, parecem amar de verdade os seus agressores, chegando até mesmo a protegê-los. Por que isso acontece? Lembrando que crianças e adolescentes estão em construção. Tem um termo chamado “Síndrome de Estocolmo”, eu não sei se vocês já ouviram falar. Geralmente, acontece com vítimas de violência, de traumas muito grandes, onde eles passam a conviver algum período com o seu agressor. E esse agressor, ele não bate, ele é respeitoso, afetuoso, ele mostra um mínimo de dignidade, se é que a gente pode usar essa palavra. Então, a vítima passa a ter afeto por esse agressor. Imaginem casos de violência sexual, onde essas crianças e adolescentes são vítimas das pessoas que elas já amam, já confiam. Então, é difícil de mais, você falar sobre isso para alguém. Agora, acho que a resposta mais apropriada é essa: Quando você admite a raiva, admite sua dor, você tem que fazer alguma coisa com ela. É como se materializasse, e ela se tornasse real. Na psicologia a gente diz isso: É a interdição do real. Quando o real invade, não há o que fazer. É aquela coisa, de que quando você sabe de alguma coisa que é verdade, quando você admite para si: Aconteceu! Você não tem mais como voltar.                 Então, admitir que é verdade, quando você diz assim: Como eu fiz com o meu agressor, eu disse que tinha perdoado. Não, eu gosto dele. Enquanto, eu dizia isso, eu conseguia mentir para mim. Dizer: Não, não está doendo não, eu sou uma pessoa normal. Não, não aconteceu isso, não. Eu tenho uma família legal, que me protegeu.                 Quando eu passei a admitir que não: É verdade, esse cara abusou de mim, vem um ódio tão grande, uma série de emoções, de certos sentimentos tão complexos e contraditórios, em que a dor parece que não tem fim, então tudo se confunde. Como eu já disse antes, nós não somos caixinhas, nós somos seres extremamente complexos e sistêmicos.                 Então, tem a “Síndrome de Estocolmo”, que já te dá uma relação de afetividade, de confiança com esse agressor e isso se confunde evidentemente com afeto, que você já nutre por ele. Quando você compreende que aquilo é violência, e quando você admite, porque são momentos diferentes. Uma coisa é você saber que é vítima, outra coisa é você admitir, dizer que é vítima.                 Nesse momento é hora de você fazer alguma coisa e vem toda a raiva. Você materializa a violência, ela se torna real para você. As outras a gente responde no site, porque não dá mais tempo, . (Aplausos). SRA. PRESIDENTE DEPUTADA BETHROSE (PRB): Fizeram uma pergunta direcionada para mim: Qual e como essa Comissão trabalhou e ainda vai trabalhar esta campanha, com os promotores e juízes da infância, na Comissão dos agressores a este crime?  Quando o crime é julgado, o agressor tem que sair. No caso, quando o agressor não sai, é porque não foi adiante o processo. Muitas vezes, a família desiste, porque geralmente é um padrasto ou um pai e o caso não vai adiante. Então, é por isso que o agressor não saiu de casa. Mas quando é julgado o certo pela lei, é o agressor sair. Muitas vezes, como é um caso muito delicado, a família não vai adiante. Pelo menos na prática, no dia a dia que nós vimos é exatamente e infelizmente esse: A família retira ou então não vai adiante.                 Além dessa batalha, pelos direitos da criança e do adolescente, nós conselheiros enfrentamos outras batalhas, luta mesmo, a falta de apoio, estrutura e compreensão dos gestores municipais. Como podemos acabar com essa falha, que você representante também deste sistema, pode nos ajudar? A Comissão da Infância, ela é parceira do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.  Eu sou conselheira, faço parte do colegiado e agora, nos 18 anos do Estatuto da Criança, tanto a Assembleia, na parte da Comissão, como também do CEDECA, do Conselho Estadual, nós estamos com o doutor Wanderlino, com os desafios. Qual seriam os nossos desafios depois dos 21 anos, do Estatuto da Criança. E um dos temas que foi tocado foi esse.                 E a outra proposta é que a Comissão vai trabalhar juntamente com o CEDECA, exatamente para sensibilizar os gestores, por essa falta de condição, de estrutura dos conselheiros tutelares. Juridicamente é uma parceria muito boa com a presidente, que é a Mônica Silan. Inclusive, ela estará presente em Tianguá. Ela não pode vir devido à agenda dela, não pode estar aqui.  Um dos nossos trabalhos vai ser exatamente esse. Sem querer questionar, o problema maior é porque a gente não quer trabalhar assim, eu não quero manchar nome de prefeito nenhum, eu quero trabalhar uma coisa que não tome partido, que não vire política. O problema maior de trabalhar é exatamente esse. Eu combinei com a Mônica Silan, da gente trabalhar silencioso, ir lá falar numa boa com o prefeito e ver realmente as condições do que é que está faltando. Mas sem levar para esse lado, porque aí complica tudo. A maior dificuldade é essa. (Aplausos). SRA. HELENA DAMASCENO (Psicóloga e Escritora): Só para finalizar a minha participação, eu não trouxe o livro, mas vocês podem acessar o blog que tem um conteúdo interessante lá. O blog chama: www.peledecristal.blogspot.com ou pode ser colocado no google Pele de Cristal, que eu acho que já aparece lá. Então lá tem muitos textos, alguns estão no livro, alguns não estão, porque inclusive, têm textos no blog que não estão no livro e vice-versa. Obrigada! (Aplausos). SRA. MESTRE DE CERIMÔNIAS MAGNÓLIA CASTRO: Nós gostaríamos agora, de convidar a assistente social Magnólia Rocha, para vir agora fazer o outro momento, que são as trilhas da notificação. Depois, nós vamos para formação de grupos. O secretário de educação quer dar também uma mensagem. E no final nós vamos entregar os certificados e almoçar. SRA. MAGNÓLIA ROCHA (Assistente Social): Bom dia a todos. É uma satisfação nós estarmos aqui em Camocim, para falarmos um pouco sobre essa questão social, que é a violência e a exploração sexual contra crianças e adolescentes no Estado do Ceará.  Eu vim falar um pouco sobre a questão das trilhas da denúncia. O que realmente deve ser feito?  Como é que acontece o caso de violência sexual e como é que a gente tem conhecimento desse caso? O que é que nós devemos fazer quando nos deparamos com uma situação de abuso e exploração sexual? Eu vou ser bem rápida, porque desse seminário o que mais interessa mesmo é a questão do grupo de trabalho que nós vamos já iniciar.                 Bem, acontecendo um caso de violência e exploração sexual contra criança e adolescente, a primeira coisa que nós devemos fazer quando nós tomamos conhecimento disso, seja um diretor, seja uma pessoa responsável por qualquer instituição, é encaminhar o caso ao Conselho Tutelar. E eu queria saber quem é que está aqui, que é conselheiro tutelar. Então, nós temos muitos conselheiros tutelares aqui. O Conselho Tutelar recebe o caso, encaminha o caso a Promotoria do Município, isso senão houver nenhuma instituição, como Delegacia de Defesa da Criança e do Adolescente no município. E após encaminhar o caso, começam outros trâmites. Encaminham para a Polícia Civil, para que a polícia encaminhe para fazer os exames necessários, para comprovação de abuso ou exploração sexual daquela criança ou daquele adolescente.  Comprovada a situação de abuso, o caso retorna, que é encaminhado para a Justiça da Infância e do Adolescente, onde começa o processo de julgamento do caso e aí se define como vai ficar a situação do agressor e a situação da criança. O nosso foco principal, quando nós identificamos uma situação de violência é acionar o Conselho Tutelar. Existe um grupo que faz um trabalho em paralelo ao Conselho Tutelar, que são nossas colegas assistentes sociais, nossas colegas psicólogas do CREAS. Eles fazem o acompanhamento psicológico e social da família, a qual a criança está inserida e também pelo acompanhamento judiciário. Como é que faz esse acompanhamento judiciário? A maioria dos CREAS, pelo menos deveria existir um advogado, que fica à disposição da família para acompanhar o caso. Em alguns municípios a gente tem esse advogado, outros municípios infelizmente, a equipe do CREAS não conta com esse profissional, o que dificulta um pouco o trabalho dos assistentes sociais e dos psicólogos.  Mas existe também e é para compor a equipe do CREAS, esse advogado que vai ser responsável por todo esse acompanhamento legal da criança e da família.  Falando também sobre essa questão legal. Nós sabemos que a criança e o adolescente, elas são totalmente amparadas tanto pela Constituição Federal, quanto pela lei que resguarda os direitos da criança e do adolescente, que no caso, é o Estatuto da Criança e do Adolescente.                 Então, é importante que os diretores de escolas, que os conselheiros tutelares trabalhem mais isso, na questão dos adolescentes. Coloquem mais isso na cabeça do adolescente. Existe uma lei, viu adolescentes, que é direcionada para vocês. Eu nem sei se todos vocês têm conhecimento disso, mas seria interessante que todos tivessem conhecimento dos seus direitos, a quem procurar, a quem denunciar e a quem buscar recursos para resguardar os direitos de vocês.  Eu queria falar um pouco aqui, de como proteger nossas crianças. Quando a gente entrar no trabalho de grupo, nós vamos desenvolver durante esses 6 meses, a partir de agora, um plano de trabalho, que é o PAE, que o Plano de Ações Estratégicas de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Vocês vão receber um CD, um guia de orientação e logo vão receber essa orientação por parte da Deputada Bethrose. E nós vamos desenvolver 10ações simples, mas que tenham um efeito muito significante no combate a esse tipo de crime. Então, eu já queria dizer para vocês que nós elencamos aqui 11 passos, 11 formas de proteger nossas crianças. Primeira forma: Os pais ou responsáveis tem importante papel a desempenhar nesse olhar de proteção, como segue: Primeiro passo: Orientar acerca dos contatos físicos íntimos ou situação constrangedora, ensinando a criança ou adolescente, como cuidar do seu corpo, explicando o que pode e o que não pode fazer.  Então, a criança, desde pequena, ela já deve ter essa consciência, que não é todo mundo que deve pegar no peitinho da criança. Porque às vezes você desenvolve uma brincadeira e a criança vai levando aquilo para a vida. A mãe chega ou o pai chega, brinca com o peitinho, brinca com outras partes íntimas, como ela vai pensando que aquilo é normal, então ela vai levando aquilo para a adolescência e também para a fase adulta.                 Então os pais, eles devem ter cuidado quanto a isso. Até no toque, até no pegar, no acariciar a sua criança, ele tem que ter cuidado para não estar despertando na criança uma consequência que vá prejudicar a sua vida.  Segundo: Construir uma relação de confiança, permitindo assim que a criança, adolescente se sinta seguro para contar quaisquer situações de perigo.                 Terceiro: Buscar manter uma supervisão acerca das atividades da criança ou adolescente, bem como a sua integridade física. Por exemplo, sangue em roupas íntimas, corrimento, mudança de comportamento, medo dos outros. São alguns sintomas que a criança ou adolescente, ele desperta quando está submetido a essa situação de abuso e de exploração sexual. Então, é importante que a família fique atenta com relação a isso.  Quarto: Ensinar a criança e o adolescente, a não aceitar convites, dinheiro ou favores de estranhos.                 Quinto: Selecionar com bastante atenção, os adultos cuidadores da criança e do adolescente, como a Helena falou. Muitas vezes a gente entrega a nossa criança, nas mãos de qualquer pessoa. Então, é importante também que a família, a mãe que vai trabalhar e deixa os seus filhos na responsabilidade de outra pessoa, saiba a procedência dessas pessoas e acredite também na sua criança. Porque muitas vezes a criança tenta avisar a mãe que está sendo constrangida, que está sendo abusada, mas por ser criança, a mãe prefere não acreditar.                 Sexto: Orientar a criança e adolescente, em estar sempre com outras crianças, em determinadas situações como passeios de escola, evitando manter-se isolada do grupo.                 Sétimo: Conhecer os amigos da criança e adolescente, em especial os da faixa etária mais elevada. Oitavo: Ensinar que respeitar os adultos, não é dar a estes o direito de fazer algo que a criança e o adolescente não desejam. Esse oitavo ponto, eu considero muito importante. Porque às vezes a gente subestima demais a nossa criança e entrega a ela a total disposição do adulto. Então, muitas vezes a criança se sente submetida de tal forma, que o adulto se ele quiser pegar na mãozinha, levar, induzir, tocar, fazer tudo o quanto quiser com a criança, ela vai aceitar. Porque ela cresceu naquela condição de submissão total.  Nono: Orientar a criança e adolescente, de que os contatos íntimos são impróprios, mesmo com pessoas de confiança, exemplo: Professores, padres e pastores. A criança tem que estar atenta a isso. É o tocar como eu falei. Tocar no peitinho, tocar em outras partes íntimas, pegar na bundinha da criança, fazer uma carícia, fazer toques na criança. A criança tem que estar atenta a isso. Seja pai, seja o pastor, seja o padre, seja o professor, seja o tio ou seja o padrinho.  Dez: Que a criança e o adolescente procurem ajuda de outros adultos, quando o abusador for membro da família.                 E onze: Explicar as opções de chamar atenção, sem se envergonhar: Gritar, correr em situação de perigo.  Então, esses espaços, nós construímos com a ajuda do Armando, que é um dos fundadores do Conselho de Direitos de Fortaleza, e tem um subsidiário bastante com relação a isso. Foram construídos encima já de um estudo. São passos importantes para nós, enquanto assistentes sociais, importantes para os psicólogos e importantes principalmente, para as famílias. Porque é um alerta é um sinal de como proteger, como evitar esse tipo de crime no meio das nossas famílias. Eu queria passar para a deputada Bethrose, porque agora, nós iniciaremos o nosso trabalho de grupo, que vai levar em torno de uns 25 minutos. Em seguida nós teremos a certificação do seminário, e encerraremos com o almoço.                 E desde já, agradecemos a presença de todos vocês que vieram até aqui, e que esse possa ser só o primeiro passo de uma longa caminhada, em defesa de nossas crianças. Numa cidade, em que só há uma equipe de profissionais do CREAS, eles podem ou devem atender a vítima e o agressor ao mesmo tempo, em dois dias diferentes, quando tanto a vítima como o agressor são crianças.  Infelizmente, devido à deficiência dos nossos grupos de apoio, que são os CREAS, o Centro de Referência Especializada da Assistente Social, infelizmente, numa cidade em que nós só temos uma equipe de CREAS, nós temos que fazer esses dois trabalhos. Principalmente, porque o caso aqui são duas crianças, tanto o agressor quanto a vítima é criança e todos os dois devem ser acompanhados tanto pelo Conselho Tutelar, quanto pelo CREAS.                 É um trabalho, que se você for fazer como cita aqui, em dias diferentes, não vai ter problema. Acontece, como eu já vi da família da criança que é agredida reclamar, dizer que a equipe de profissionais está beneficiando o agressor. A família, na realidade, ela desconhece que a lei também garante esses direitos para o agressor, esse tipo de acompanhamento.                 Eu queria chamar o secretário de educação, que pediu um espaço. Obrigada pessoal! (Aplausos). SR. FÁBIO SILVA (Secretário de Educação de Camocim): Prometo que vou ser rápido. Eu só queria, na verdade, não sair daqui com esse peso na consciência de mais uma vez parabenizar a Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, na pessoa da deputada Bethrose, pela forma como o trabalho está sendo construído. Por quê? Porque é muito positiva a questão de se pensar na discussão dessa temática, a partir de grupos de trabalhos regionalizados, como está acontecendo aqui. Porque muitos projetos já são fadados ao fracasso desde o início, porque começam apresentando uma solução mágica. E eu acredito que isso não é possível numa sociedade, onde a gente vê que está passando por uma crise paradigmática. Em que na verdade, a gente precisa de como diz o Miguel Benasayag, um novo pacto civilizatório.  E um ponto também importante foi à escolha da palestrante, e até eu queria, na verdade, dizer para a Helena, como foi importante ela mostrar essa nova representação do passado, de como ela conseguiu superar isso e dar a volta por cima. Principalmente, para os nossos adolescentes que estão aqui, e para alguém que de repente, pode estar no nosso meio, que pode ter sido vítima de abuso ou de exploração sexual.                 E dizer que hoje, eu percebo a grande necessidade da formação de uma rede social educativa, em torno desse tema. Então, que a gente perceba que a resolução desse problema não está na escola, não está na Assembleia, mas está em todo canto. É como disse o provérbio africano: É necessária toda uma aldeia, para educar uma criança ou Então, porque a gente não poderia parafrasear e dizer: Para proteger uma criança do abuso e da exploração sexual.  Colocar um ponto também, que é muito importante para nós, que a gente pensa na criança, claro e no adolescente que sofre o abuso e a exploração, mas é muito importante também a gente pensar numa outra coisa, não é só na verdade, punindo o agressor, que a gente resolve esse problema. A gente tem que pensar, por que é violento aquele que é violento? De que falta padece, na verdade, aquele que provoca a violência? Um ponto também importante. Muitas vezes, a quietude, ela não é percebida na escola. Por que o que é que salta aos nossos olhos? É a criança que é imperativa, é a criança que tem o comportamento, na verdade, não é muito comum do ponto de vista de chamar a atenção. Então, a gente precisa perceber esse silêncio aflito, que muitas vezes está presente na quietude daquelas crianças, que estão sentadas lá. E pensar que para perceber isso, a gente precisa de outro detalhe muito importante, que é garantir a confiança dessas crianças, como disse o James Hunter no livro O Monge e o Executivo, a confiança é a cola que gruda os relacionamentos. Então, jamais eu vou me relacionar bem e contar para alguém uma coisa minha, se eu não confio nessa pessoa. A escola precisa ser esse espaço de diálogo. A casa da gente, enquanto vizinho, também precisa ser esse espaço de diálogo, na verdade, e a gente pensar. Outra coisa nós falamos muito mal do Estatuto da Criança e do Adolescente, dizemos que o estatuto dá as crianças muitos direitos, e que a gente está tornando esses adolescentes, cheios de direitos, essas crianças creias de direitos. E eu queria propor uma coisa, antes de falar mal do estatuto, vamos pelo menos conhecê-lo. Porque todas as pessoas que falam mal do Estatuto da Criança e do Adolescente, quando você pergunta uma coisa sobre o estatuto, ela não sabe dizer. SRA. PRESIDENTE DEPUTADA BETHROSE (PRB): A maioria só conhece, às vezes que falam dos adolescentes em conflitos com a lei, só. SR. FÁBIO SILVA (Secretário de Educação de Camocim): Então, muito obrigado e vamos para a parte mais importante. (Aplausos) SRA. PRESIDENTE DEPUTADA BETHROSE (PRB): Então, vamos iniciar. O grupo de trabalho vai ser bem rápido, para a gente almoçar. Por quê? Porque dos 10 passos, para a gente construir o Plano de Ação Estratégica, hoje aqui, nós só vamos fazer 2, que vão ser bem simples, que é: Nomear um gerente e um secretário para a equipe, que é bem rápido. E o outro, depois que vocês se reunirem, de cada município, identificar a rede de proteção social do seu município. Então, depois que a gente fizer isso, vamos ver o terceiro passo. Porque a partir do terceiro passo, cada um vai fazer no seu município. Qual seria o terceiro passo? Entrar em contato com a rede e convidá-la para participar da construção e da execução dos seus Planos de Ações Estratégicas. São 10 passos, mas você pode fazer pelo menos até o 6º, mais ou menos, numa reunião. O problema maior vai ser as ações. Vamos iniciar agora, fazendo o primeiro passo. Por exemplo, o município de Camocim, todos se reunissem aqui, todos viessem para cá e fizesse um grupo só, por favor. A gente ainda entrega o certificado hoje, de participação. Chaval! Barroquinha! Martinópole!  Uruoca! Granja!                 Eu gostaria que cada diretor abrisse esse material, nessa página “Construindo o Seu Pai”. E que vocês escolhessem agora, um gerente e um secretário de cada grupo. Cada escola vai ter que fazer um Plano de Ação Estratégica. É por escola, eu vou deixar bem claro. Depois, cada grupo vai identificar a rede de proteção social do seu município. Eu gostaria agora, de explicar o que seria o PAE, que é o Plano de Ação Estratégica. Vocês vão reunir a rede de proteção e pensar em 10 atitudes que podem salvar uma vida. Isso é o PAE. Então durante 6 meses, vocês vão elaborar 10 ações que vai ficar a critério, de acordo com a realidade do município. Só um conselho: Pense em ações práticas, utilizando recursos e materiais já existentes ou de fácil acesso.  Por exemplo, caminhada, jornal escolar, reunião com os pais, de como identificar o abuso, que é o mais importante, palestras e outros. Ligar e reunir a rede de proteção, para ele, que vai ter que fazer isso e o gerente é para gerenciar todas as ações, como essa do sexto passo. Por escola, por exemplo: O secretário aqui e o gestor, no sexto passo, definir ações. Quais são as atitudes? O que é que vai precisar? Quem vai providenciar? Quando vamos realizar? Os parceiros? Então, tudo isso é o gerente. Por exemplo, de 10 ações, do seu Plano de Ação Estratégica, vocês vão reunir os pais dos alunos e trabalhar com eles, como identificar, como proteger a sua criança de 2 a 12 anos, do abuso sexual. O que é que ele pode alertar? Ele tem que alertar que ele não desconfia daquela pessoa mais próxima dele, que é o padrinho, o professor de violão. São escolas estaduais e escolas também municipais, do ensino fundamental II, porque faltaram. O propósito é exatamente as escolas estaduais. Agora, eu gostaria que vocês prestassem atenção em todos os passos. Então, o primeiro passo: Nomear um gerente e um secretário e identificar a rede de proteção. Outra coisa muito importante: Porque tanto a Assembleia como a CREDE, eles vão acompanhar esses 6 meses. Então, eu gostaria que a partir do momento que vocês escolhessem o gerente e o secretário, vocês deixassem o nome e o contato. E vocês recebessem também o contato da Comissão, para poder fazer esse intercâmbio. E no terceiro passo: Vocês já vão por escola. Então, está encerrada a audiência.

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