Antes de o ex-ministro atender a convocação da Câmara, foi dito no Diário do Nordeste que ele seria hostilizado. No ato da exoneração está registrado que foi a pedido
Cid Gomes chegou a Fortaleza ainda na noite de quarta-feira, a tempo de ainda participar das comemorações do aniversário da mulher, Maria Célia. Dizia estar aliviado. E quem esteve com ele, ainda em Brasília, depois das despedidas, dizia sentir esse sentimento da parte do ex-ministro. Não conversou sobre política, nem quanto ao futuro, a não ser com o presidente da Assembleia cearense, deputado José Albuquerque, com quem viajou de volta para a Capital cearense.
Em cinco oportunidades distintas, desde a oficialização do seu nome para o Ministério da Educação até o último domingo, falamos, dentre outros temas relacionados à sua missão no Governo da presidente Dilma Rousseff, anotando, no dia 8 passado, ao tratar da sua convocação pela Câmara dos Deputados para esclarecer declarações sobre os "achacadores", ser aquele momento, o da última quarta-feira, o mais difícil de toda a sua vida pública, pois ele estaria "no centro de um plenário parcialmente determinado a hostilizá-lo, não só pelas suas palavras, de agora e de antes, como por estar, naquele momento, representando um Governo deveras fragilizado no Congresso Nacional".
Evidente, Cid gostaria de ter ficado mais tempo como ministro. Despediu-se sem deixar uma marca de gestor da Educação nacional, mas, talvez por isso contente consigo mesmo, com o sentimento de ter saído de cabeça erguida ao confirmar tudo que dissera, e mais, de certa forma ajudando a presidente Dilma, ao afirmar que ela está sendo vítima de "achaques" de políticos da sua base aliada.
Provavelmente, por isso, a Chefe da Nação, agradecendo-o assinou o ato de sua exoneração, enfatizando ter sido a pedido do próprio. Ela agradaria muito aos adversários de Cid, notadamente ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, se não tivesse registrado, como está no Diário Oficial da União, tê-lo exonerado a pedido.
Resistências
No primeiro domingo deste ano está registrado no Diário do Nordeste, que Cid poderia, "sim, deixar uma marca muito significativa no cenário nacional da Educação, apesar de todas as dificuldades políticas e econômicas admitidas para este início de gestão da presidente Dilma. Polêmico, bem menos que o irmão Ciro, Cid sofrerá as resistências naturais da oposição, embora incompreendidas, por se tratar (a Educação) de um setor que ao invés de ser combatido, precisa mesmo é ser apoiado".
Em outro tópico, do mesmo comentário do início deste ano é feito referência ao PMDB, "muitas vezes atacado por Cid e Ciro, claro, não lhe oferecerá o apoio necessário à facilitação do seu trabalho". E foi realmente o PMDB, sob a liderança de Eduardo Cunha, o pivô da exoneração do ex-ministro.
Integrantes de outros partidos foram na mesma linha do grupo do presidente da Câmara, na última quarta-feira. Como previsto, Cid encontrou um plenário hostil, de nada valendo o adiamento da reunião, em razão da hospitalização do ex-ministro. O ambiente foi preparado para constrangê-lo, a partir da sua presença em plenário. Sequer o tratamento protocolar, dispensado aos mais ferrenhos adversários, foi observado.
Solidariedade
Os cearenses que o acompanharam, a partir de Fortaleza, no dia anterior, emprestaram-lhe um grande apoio, mesmo alguns deles tendo sido retirados das galerias, mas o governador Camilo, o presidente da Assembleia, José Albuquerque, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio e alguns outros que permaneceram no plenário, ao lado de alguns deputados federais da bancada cearense e outros parlamentares amigos dele. Fora do plenário, outras manifestações o sensibilizaram: a de servidores da Casa.
Futuro
Na próxima semana, liderados seus esperam ter início uma discussão sobre o futuro dele. Na avaliação do seu grupo, a repercussão positiva da postura que adotou na Câmara dos Deputados motiva ampliar a sua ação política no País, a partir do trabalho de concretizar a ideia de fusão de partidos e, na mesma faixa do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, por outros caminhos, estimular a criação de uma nova agremiação partidária.
Retomar o projeto de morar uma época fora do Brasil, como anunciava antes do convite para o ministério, não agrada a maioria dos seus amigos. Se antes já não defendiam seu distanciamento do Ceará e da política nacional, agora, entendendo que há espaços para capitalizar politicamente seu enfrentamento com o presidente da Câmara Federal, é que não admitem tratar dessa solução.
Nas despedidas da presidente Dilma, no início da noite de quarta-feira, alguns dos que rapidamente entraram no gabinete: Camilo, José Albuquerque, Roberto Cláudio e os deputados Leônidas Cristino e Domingos Neto, ouviram que eles acertaram um encontro brevemente.
Edison SilvaEditor de Política