Alguém se surpreendeu com os resultados das pesquisas que apontaram uma vigorosa aproximação entre as intenções de votos dedicadas a Eunício Oliveira (PMDB) e Camilo Santana (PT)? Há mais de um mês, o leitor que acompanha as minhas análises já havia sido avisado do que por certo viria.
Na edição do O POVO de 24 de julho, a campanha ainda se arrastava e já se apontava aqui que os 14% alcançados por Camilo Santana no Ibope sinalizava a força do Governo e da aliança que banca o petista. “As primeiras exposições públicas de Camilo, que tem aparecido sempre ao lado de seus patrocinadores políticos, já foram suficientes para colocá-lo em um patamar competitivo montado em um índice de dois dígitos”.
Três dias depois (27 de julho), ainda antes do início do horário eleitoral, afirmei que “baseado no histórico dos resultados das eleições majoritárias no Brasil e no Ceará, um candidato que inicia a campanha com índices superiores a 40% é sugestivo de um começo pelo teto das possibilidades eleitorais. Ou muito perto disso. Quem começa pelo alto, no limite das possibilidades, corre o risco de não ver seus índices crescerem no decorrer da disputa”.
O artigo apontava que o senador estava montado em um índice de intenção de voto bastante confortável. Eram 30 pontos percentuais de diferença em relação a Camilo Santana (PT). 38 pontos em relação à candidata do PSB, Eliane Novais.
“Não há dúvida. Os que vêm atrás tendem a crescer. Afinal, são muito menos conhecidos do público e, portanto, devem angariar intenções de voto na proporção em que se apresentem aos eleitores. E é claro que tendem a sugar votos justamente do líder”.
Na edição de 21 de agosto, ao analisar a primeira pesquisa (Datafolha) realizada após o início do horário eleitoral, o texto recebeu o seguinte título: “Em duas semanas, o futuro do Ceará”. O artigo se baseou em um revelador ponto da pesquisa: “Após sete anos e sete meses à frente do governo do Ceará, a gestão de Cid Gomes é aprovada por 46% dos cearenses. Outros 34% a consideram regular e 15% reprovam sua gestão”.
Na consulta estimulada daquele Datafolha, Eunício Oliveira apareceu com 47% contra 19% de Camilo Santana (PT), o candidato de Cid Gomes. Eram 28 pontos percentuais de diferença. “É clássico em eleições: uma gestão razoável ou bem avaliada pelos eleitores costuma melhorar a popularidade durante as campanhas... É usual que a gestão transfira a popularidade para seu candidato em disputa”.
Ao fim do texto, a sentença: “Portanto, em circunstâncias normais de temperatura e pressão, as intenções de voto dedicadas a Camilo Santana devem subir. Não seria surpreendente se Eunício Oliveira já aparecer menor na próxima pesquisa Datafolha que será feita após duas semanas de horário eleitoral”. A julgar pelo Datafolha divulgado ontem pelo O POVO, dito e feito.
Não se trata de exercício de adivinhação. As projeções se baseiam na lógica e no histórico das eleições. Como é usual, a força do Governo bem avaliado e da poderosa máquina de campanha se fizeram valer encurtando significativamente a distância entre Eunício e Camilo. Mas, essa distância continuará diminuindo a ponto de haver cruzamento entre as linhas de um e de outro?
Há mais de 30 dias para a eleição, não é possível afirmar com certeza. Porém, a ascensão de Camilo ocorreu em uma hora bastante adequada para o candidato. Relevante também para a análise é que os índices de intenção de voto do candidato do PMDB não caíram com a mesma intensidade do crescimento de Camilo e se mantêm em um patamar alto.